domingo, 13 de outubro de 2013

“Fogo”

Criança é foda. Lá estou eu com meus 7, 8 anos de idade, sozinho em casa, após ter chegado da escola. Já almocei, fiz os temas, e assim pude ligar a televisão para assistir os desenhos animados que passavam na década de 1970. E naquela tarde decidi brincar de cientista, não me perguntem porque. Pego uma bacia, encho de pedras e as banho com álcool. Logo em seguida pego um fósforo e acendo, para ouvir e ver uma explosão na bacia. Dou um pulo tentando me afastar das chamas, mas noto um calor se espalhando pelo meu corpo. Então vejo meu braço direito envolto em chamas. Minha nossa, estou pegando fogo! Corro para a pia, abro a torneira e deixo a água escorrer pelo meu braço, apagando o fogo. Fico ali tremendo, apavorado. Horas depois, o pai e a mãe chegam em casa, e perguntam se tudo correu bem durante a tarde. “Claro, claro”, respondo, sem muita convicção. “Por que tu está gaguejando?”, pergunta a mãe, desconfiada. “Nada, nada”, respondo, mas passo as duas próximas semanas achando que o meu braço iria cair.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

“Demissão”

Em 1991 consegui meu primeiro emprego na grande imprensa, como produtor na rádio Bandeirantes AM, nos programas do Paulo Solano e do Gilberto Gianuca. Eram programas essencialmente sobre política e eu tinha de preparar pautas e colocar no ar vereadores, deputados, senadores, todas as manhãs. Era uma doideira. Começava a correria lá pelas 6h45min e só terminava o trabalho por volta das 13h30min. Imaginem uma época em que não havia celulares. Então tinha de combinar com os políticos para eles estarem em suas casas ou gabinetes na hora que eu ligasse para irem ao ar, nas entrevistas com os dois apresentadores. Nos intervalos dos programas, eu atravessava o corredor e ia até a Ipanema FM para me meter na programação da rádio rock. Com quase três meses de casa, fui designado para ensinar uma estagiária, a Tânia, na produção. E lá fui eu dar uma de professor. Uma semana depois, chego na rádio e a guria está sentada em meu lugar no estúdio. E nem se dá ao trabalho de levantar. Fico ali de pé, e minutos depois entra no estúdio o diretor da Band, o Camarão. “Chico, quando acabar o programa do Solano passa na minha sala”, diz ele. “Ok”, respondo. Às 10 horas termina o programa e me encaminho pra sala do Camarão. Entro e ele vai logo dizendo: “Chico, as coisas estão pretas para você”. Como nunca perco a piada, eu respondo, passando os dedos da mão direita no braço esquerdo. “Eu sei”, querendo dizer que sou negão. O Camarão se mantém sério e continua: “A partir de hoje os seus serviços não são mais necessários na rádio”. Mas como, quero saber. “Ah, o Solano pediu sua demissão”, responde ele. Saio da sala e vou falar com o Solano, que nega. “Eu? Não, bem capaz. Isso é coisa do Camarão”. Volto pra falar com o diretor da rádio, mas não há o que fazer. Estou fora. Fico ali, pelo corredor, vagando meio sem rumo, ainda não acreditando na demissão. Nisso passa o Nilton Fernando, que era o diretor da Ipanema. Ele me olha, e pergunta o que houve. Respondo que fui demitido. “Chico, fica tranquilo, vai pra casa, que vamos pensar em algo”, diz ele. Uma semana depois, ele me liga e me convida para ser redator da Ipanema, e aceito de cara. Quando chego no prédio, dou de cara com o Camarão, direto. “O que tu faz aqui?”, pergunta ele. “Olha, agora sou da Ipanema, com licença”, falo, passando reto por ele. Intocável em meu novo espaço.