sábado, 29 de novembro de 2014

"Porquinho"

Segunda série, 1974. Aprovado de ano, ao lado de coleguinhas que também haviam passado, ganhei uma tarde num parque de diversões perto do Beira-Rio. Quem nos levaria seriam as professoras da Escola Estadual Paula Soares, onde passei boa parte da minha vida. Que festa para a gurizada. Satisfeita com meu desempenho escolar, a mãe me deu uma mesada em dobro naquela semana. Acho que pela moeda da época, eram uns dez cruzeiros. Uma fortuna, que desta vez eu não gastaria em revistinhas em quadrinhos. Nossos olhinhos brilharam quando chegamos ao parque e vimos aquele montão de brinquedos e mais stands de comida, muita comida. Me atraquei no cachorro-quente, passei para a pipoca doce, o algodão doce, coca-cola. Enchi a pança de comida e ainda tinha dinheiro sobrando. Era a hora de embarcar na roda-gigante. Depois passei para a montanha-russa, e nesse momento meu estômago começou a fazer estranhos barulhos. Desci da montanha-russa e estava verde, azul, lilás, roxo...um colega, o Marco Aurélio chega perto de mim e pergunta: "Izidro, tu tá bem?". Quando eu tento responder, o que sai da minha boca não são palavras, mas sim um jato de vômito, que acerta o peito do guri. Ele olha para o estrago na roupa dele, e eu continuo vomitando no chão, em quem tenta se aproximar. O Marco Aurélio começa a chorar. E ali acabou a tarde no parquinho para a turma do Paula Soares. Olho grande é foda....

sábado, 22 de novembro de 2014

"Sinal verde"

Sábado, começo da tarde, saio do supermercado em frente ao prédio onde moro, no Cristal, atravesso uma faixa da rua. A outra está fechada para transeuntes, sinal vermelho. Paro e espero a minha vez de avançar. Seguro as sacolas de compras e a mochila nas costas. Olho para a rua, e nada de carro. Nadica de nada. Mesmo assim espero o sinal ficar verde. Quando aparece o bonequinho caminhando, lá me vou em frente. E segundos depois, quase sou atropelado por um carro, que passa veloz o sinal verde, como se não houvesse amanhã. Putz. No reflexo, dou uma voadora e acerto a parte traseira do carro com o pé direito. O carro segue alguns metros e o motorista freia. Puta que pariu, penso. O cara vai voltar e me dar um tiro nas fuças. E lá vem o carro, de ré, em minha direção. O motorista para do meu lado e o gordinho que está no volante põe a cara para fora. "Ô magrão, tu tá louco? Chutou o meu carro!", berra ele. Aí eu desperto do susto. "Louco, eu? Velho, tu passou o sinal verde e jogou esta bosta em cima de mim, quase me atropelou", devolvo o berro, olhando feio para o gordinho, que se assusta com a minha reação, e o meu tamanho. "Ih, foi mal", diz ele, pisando firme no acelerador e sumindo de minha frente. Pô, motorista acha que é dono das ruas...

sábado, 18 de outubro de 2014

"Pedra"

Chove para caramba, e estou na parada de ônibus, me protegendo da água, que cai em diagonal. Nisto olho pro lado e vejo uma senhora caminhando em minha direção, a mão esquerda fechada. Ela segura algo, que não consigo visualizar de longe. Já próxima de mim, ela vai falando algo e vejo que carrega uma enorme pedra. Puta que pariu, serei agredido pela mulher. Tiro os fones de ouvido e me preparando pro golpe, quando ela diz: "Meu rapaz, tu viu o que estou carregando?" "Sim, uma pedra". "Pois é, com esta chuva decidi pegar esta pedra para me defender destes carros que passam e fazem questão de jogar água na gente", diz ela. "Aí quando eles vem vindo, já mostro a pedra e eles desaceleram. Claro que não jogarei uma pedra no vidro, mas dá uma vontade enorme". Olho pra ela e confesso que já pensei em fazer isso, mas eu jogaria a pedra. Não ficaria só na ameaça, mas nunca cheguei a pegar uma pedra no chão para me proteger. "Bem, meu filho, um bom dia pra ti", fala ela, seguindo em frente, e apontando a mão para os carros que vão passando na avenida. Eu fiquei pensando o que poderia acontecer se alguém atirasse uma pedra e arrebentasse o vidro de um carro. Será que o motorista iria parar? Sairia uma briga violenta. A pessoa que jogou a pedra seria presa?

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

"Eleições"

Em 1994 trabalhei nas eleições para governador e presidente. Bem, sempre fui da ideia de que não se pode dar poder a quem não sabe lidar com ela. E foi o que aconteceu com a presidente de mesa onde fui mesário. Logo ao chegar na sessão eleitoral às seis e meia da manhã, veio uma pirralha cagando ordens. "Fulano, você senta lá", "sicrano, você fica ali", "etc, etc". "O que eu faço?", pergunto. "Ah, tu pode sentar ali", disse a guria, apontando uma mesinha, sem nada em cima. Sentei e fiquei ali esperando começarem os trabalhos. Às oito horas começaram a votação e nada de eu ser chamado para fazer algo. Duas horas depois, lá estava eu, na minha mesinha, e nada, nada. E ela berrando com os outros mesários, cagando regras e ordens. "Então, no que posso ajudar?", pergunto. "Fica aí", ordenou a guria. Meio-dia, ela me olha, e diz: "Cara, tu pode ir almoçar agora. Mas volta em uma hora, viu?", ordena. "Ah, tá, muito obrigado pela concessão", ironizo, levantando e saindo da sala. Vou pra casa, puto da cara. Almoço e decido tirar uma soneca. Acordo às duas e meia da tarde, tomo um banho e volto pra sessão às três horas. Quando entro na sala, a guria me olha furiosa. "Onde tu andava, onde tu andava?". "Hello, quem tu acha que é?", pergunto. "Eu sou tua chefe, tu tem de me obedecer", berra ela. "Tem algo errado aqui. Tu é apenas a presidente de mesa, tu não é minha chefe. Quem tu acha que é?". "Eu sou tua chefe", repetiu. "Não vamos a lugar nenhum assim. Te recompõe e muda teu jeito de agir", respondo, ainda falando sobre as bobagens que ela passou a manhã fazendo. Os outros mesários olhavam, boquiabertos. Bem, voltei pro meu canto e fiquei ali, atirado até acabar a votação, às cinco da tarde. Quando simplesmente levantei e fui pra casa. E ainda teria um segundo turno....

"Mesário"

Estamos em 2002. Estou em casa numa terça-feira, por volta das 22h, quando toca o interfone. Atendo e do outro lado da linha, escuto: "É o carteiro". Ué, o que desejaria um carteiro àquela hora da noite? Um golpe, seria assalto? Não libero a entrada do cara no prédio e desço a portaria. E quando chego no térreo, vejo mesmo um carteiro do lado de fora. Abro a porta para ele. "Sim?", pergunto. Ele me passa um envelope e a prancheta com um papel para assinar. "O que é?", questiono. "É do TRE". Então verifico que estou sendo convocado para trabalhar de mesário nas eleições. E simplesmente me recuso a assinar o papel e devolvo o envelope. Ah, não, brincadeira. Mais uma vez. Desde 1990 me pegavam para trabalhar de mesário e eu estava de saco cheio. "Mas o senhor tem de assinar", insiste o carteiro. "Não, não", digo. Ele pega os papéis, coloca na bolsa e escreve algo no papel que me recusei a assinar. E vai embora. Duas semanas depois, toca o telefone. Atendo. "Sim". "Bom dia, por favor, o senhor Francisco". "Eu mesmo". "Aqui é do TRE". "E..." "Bem, o senhor está sendo acusado de crime eleitoral e pode ser preso nas próximas horas". "Como?". A pessoa do outro lado da linha repete. Fico achando que é trote de algum amigo, mas o funcionário continua: "Há duas semanas o senhor recusou convocação para trabalhar nas eleições. Isso é crime e o senhor pode ser condenado até a seis meses de cadeia". Então me dou conta que não contei para ninguém, a não ser a minha namorada da época, sobre o ocorrido naquela terça-feira. "O senhor tem 24 horas para apresentar sua defesa", continua o cara. Na mesma hora, me arrumo e me mando pro TRE, ali na Praia de Belas. Chego lá, e sou encaminhado ao cartório eleitoral. Onde já sou recebido com ironia. "Bom dia, ligaram para mim agora, me ameaçando de cadeia", informo. "Ah, pessoal, apareceu aqui aquele carinha que recusou a convocação", diz o atendente, chamando a atenção dos colegas, que começam a rir. E uma mulher me olha e diz: "Meu rapaz, sua atitude é horrível. Imagina que temos pessoas que até se oferecem para trabalhar nas eleições", dispara. "Ótimo para elas", rebato. "Mas eu não quero mais", completo. "Cadê seu senso de cidadania? ", me diz ela. "Olha, depois de doze anos eu perdi", respondo. "Tsc, tsc, tsc, que triste", escuto. "Por que o senhor se recusou a assinar a convocação?", pergunta o funcionário que me atendeu primeiramente. "Sou mesário desde 1990. Deu, né?". "Sabe, meu rapaz, que tem uma senhora de 78 anos que implora para ser mesária", diz a mulher. "Que bom pra ela. Mas eu não quero mais", repito. "Bem, já que você insiste em negar, tem como provar que foi mesário desde 1990? Caso contrário, você será preso por até seis meses", ameaça o funcionário. "Aliás, você tem 48 horas para comprovar ter trabalhado nas eleições. E só é liberado se tiver trabalhado no mínimo em cinco eleições", ressalva. "Mas não estamos no TRE? Vocês devem ter todos os dados informatizados, né? Passei das cinco eleições faz tempo", afirmo. Ficam me olhando com cara de "ó, que cara esperto, ele nos pegou". "É, temos". "Então vocês não podem pegar meus dados e acabar de vez com esta discussão?", peço. "Lhe daremos a resposta em dois dias", avisam. Dou tchau para eles, que simplesmente me ignoram, virando as costas e voltando a seus afazeres. Dois dias depois, me ligam e informam que eu estava livre para sempre da tortura de ser mesário.

sábado, 5 de julho de 2014

"Prêmio"

Recebo um torpedo da Vivo, informando que eu ganhei R$ 45 mil pela recarga premiada. Então devo ligar para o número indicado na mensagem ou mandar um torpedo com a senha informada. Mando um torpedo com a senha e dois minutos depois recebo uma ligação. "Bom dia, senhor", diz a voz do outro lado da linha. "Bom dia", respondo. "Meu nome é Marcelo Monte Novaes e sou gerente da Vivo. Estou entrando em contato com o senhor, informando que o senhor é o ganhador de R$ 45 mil. Parabéns", diz o interlocutor. "Ah, tá", respondo, sem entusiasmo. "Para receber o valor, vamos fazer alguns procedimentos. Tudo bem?", avisa o Marcelo. "Tudo bem", respondo. Então ele pergunta meu nome completo, e logo em seguida diz "que é uma mensagem séria. Isso não é um trote, viu, senhor Francisco. O senhor pode agora anotar alguns dados?". Digo que sim e anoto o que ele vai falando. Seu nome completo, seu cargo na Vivo, o endereço da loja, em São Paulo. Só que o número que ele me ligou é do Nordeste. E a minha conta da Vivo é pós-pago, não recarga. Mas sigo adiante. "Senhor Francisco, não estou sentindo entusiasmo na sua voz. O senhor ganhou R$ 45 mil, cadê a alegria?", questiona o Marcelo. Dou uma risadinha sem graça. "Mais entusiasmo, seu Francisco", pede o gerente da Vivo. E então ele me pede que eu repita os dados que me passou. Repito. "Muito bem, agora vamos ao próximo passo", avisa. E pergunta qual banco eu tenho conta. "O senhor tem conta em qual destes bancos, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Bradesco ou Itaú?". "Nenhum deles", digo. "Mas algum parente, conhecido tem conta em algum destes bancos?". "Não que eu saiba", respondo. "Bem, então qual seu banco?". Digo pra ele. "Puxa, seu Francisco, então o senhor terá de abrir uma conta poupança. O senhor tem como ir agora a uma agência lotérica? Vou lhe passar o número de sua nova conta e o senhor deposita R$ 200. O senhor tem R$ 200 na mão?". "Não", falo. "O senhor vai perder R$ 45 mil por não ter R$ 200? Quantas pessoas não gostariam de estar no seu lugar agora?". "Fazer o quê?", digo. "O senhor quer prosseguir com a premiação ou para por aqui?", pergunta o Marcelo. "Olha, vou parar". "É sua última palavra?", pergunta de novo. "Sim". Faz-se o silêncio do outro lado da linha. E então ele volta: "Então vai tomar no teu cu, vai se fudê, seu trouxa", e desliga na minha cara. Putz, matei um vigarista no cansaço. E fico pensando quantas pessoas não caem no golpe por se verem embolsando uma bolada de graça.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Grávida

Venho pela Rua da Praia em direção ao jornal, quando em frente a Livraria Saraiva vejo uma mulher fumando. Até aí tudo bem, só que ao chegar mais perto noto que ela está grávida. Então paro e fico olhando para ela, com certo olhar de reprovação. A mulher vê a minha cara de espanto e dispara: “O que foi?”. “Tu está grávida e está fumando”, respondo. “E o que tu tem a ver com isto?”, replica a mulher. “Ora, tu está grávida...”, repito. “Cara, vai cuidar da tua vida. Não te mete”, grita ela, e os passantes olham, meio que indignados, aquela cena às três da tarde de um dia de semana. “Baita consciência a tua, hein...”, digo. Sem ter mais o que falar, ela apenas põe a língua para fora e depois aponta o dedo médio, me mandando tomar naquele lugar. Só consigo dizer: “Beleza, belo exemplo de mãe”, e retomo a minha caminhada pro Correio do Povo.

terça-feira, 13 de maio de 2014

“Estereótipo”

Estou eu e meu amigo Jaime Martins na fila do crediário da Paquetá, lá por 1992, 93, esperando pelo atendimento. No alto-falante está tocando Fágner, e a gente fica tirando sarro da letra da música, “de corno”, dizemos. Na nossa frente, três carinhas, loiros, conversam sobre futebol. E um deles solta a pérola: “Gente, vocês já viram gremista negro? Eu nunca vi, isso não existe, e se existir, está errado”, diz. Os outros dois concordam. “Realmente, negros devem ser colorados”. O alemão Jaime me olha com olhos arregalados. Eu dou um tapinha no cara que fez a pergunta. Ele me encara. “Sim?”. “Cara, eu sou negro e sou gremista. Aliás, toda a minha família”, digo. Ele me olha com uma cara de desaprovação, mas não por eu ser negro e gremista, descobrirei em seguida. “Tsc, tsc...cara, tu não é negro, tsc, tsc, tu é café com leite, pardo, mas negro tu não é”, fala o carinha. “Não, cara, sou negro!”, repito. “Bah, cara, tu não é”, reafirma ele. “Mas pelo menos eu posso ser gremista?”, pergunto. “O azar é teu de ser gremista”, ri ele. “Cada um com seus problemas”, encerra ele.

“Cigarro”

Nunca gostei de cigarro, já contei isso aqui. Até deixei uma namorada sozinha num bar uma vez, ao vê-la acender um cigarro. Então há uns 30 anos estava em Gramado, desci o Caracol, subi, almocei e me estirei no gramado em frente ao restaurante. Do meu lado um rádio-gravador daqueles grandões, emprestado pelo Alemão Sérgio, e no toca-fitas rolando um heavy metal. Eu pus os fones, fechei os olhos e estou lá curtindo o Accept. De repente sinto um forte cheiro de cigarro vindo em minha direção. Abro os olhos e tem um carinha sentado bem do meu lado, fumando. “Pô, cara, tu poderia fazer o favor de fumar noutro lugar?”, peço, educadamente. O carinha me olha, e solta uma baforada na minha cara. “Não!”, responde ele. “Bah, na boa, olha o espaço livre para tu fumar, e tu vem fazer isso do meu lado. Sacanagem, né!”, digo. “Véio, tá te incomodando? Sai fora”, dispara. “Porra, cara, eu cheguei antes e tou de paz aqui”, retruco. E o que faz o fumante? Levanta e chuta o rádio, que voa longe, soltando fita pra fora. Putz, na mesma hora eu me levanto, e parto pra porrada. Nos engalfinhamos ali na grama, aos socos e pontapés, até que somos apartados por pessoas que passam por ali. “Idiota”, berro. “Imbecil”, retruca ele, com as pessoas nos segurando. “O quer houve?”, pergunta alguém. Digo do cigarro fumado na minha cara. “Mas isso, que bobagem...por causa de um cigarrinho...”, ouço as pessoas falarem. Lembrem-se, estávamos na década de 1980, onde as pessoas fumavam em ônibus, elevadores, hospitais e até mesmo no cinema. Eu fiquei sendo visto como um ET. Abaixei, peguei o rádio, a fita, e tive de me retirar do meu cantinho, expulso por um fumante. Ah, fumantes...

quarta-feira, 7 de maio de 2014

“Assalto”

Saio de um show no Opinião, lá pela uma e meia da manhã, isso em 2004, e vou caminhando em direção a Perimetral pegar qualquer ônibus ou lotação que venha para a zona sul. Chego na parada, bem em frente a Praça Zumbi dos Palmares. Comigo mais umas seis ou sete pessoas que também estavam no show. Duas delas sentam no cordão da calçada, e ficamos tentando adivinhar quando vai aparecer uma condução. Nisso chegam três carinhas vindo dos Açorianos, e cada um fica numa ponta da parada. Acho tudo aquilo muito estranho. Eles se olham, e eu observando, e fazem sinais com a cabeça. Então um deles põe a mão dentro da mochila. Putz, eu saco. Eles vão assaltar a galera. Mas como avisar o pessoal sem criar tumulto? Acabo fazendo uma coisa meio egoísta, simplesmente saio correndo em direção ao outro lado da rua. Quando chego na praça, olho para trás e vejo o carinha que tinha colocado a mão na mochila puxar uma arma e apontar para o pessoal. Em segundos, os três limpam todo mundo. Carteiras, celulares, relógios. Eu fico procurando algum brigadiano, algum carro da polícia, mas não vejo nada. Os ladrões terminam o trabalho e saem correndo em direção ao Gasômetro. O pessoal que foi assaltado atravessa a rua, e eu vou de encontro a eles, me desculpando por ter fugido. “Pessoal, eu notei o cara armado, mas como avisar vocês sem levar um tiro? Eu tive de me mandar”, digo, me sentindo culpado. “Cara, fica tranquilo, tu não tinha o que fazer. E faltou atenção da gente”, diz um carinha cabeludo. Então fomos atrás da polícia. Em vão. Depois da tentativa frustrada, consegui pegar um lotação e voltar para casa. Agradecendo ao anjo da guarda.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

“Vaga”

1994. Eu estava no Correio do Povo há uns três, quatro meses, e quase todos os dias subia na rádio Guaíba para trocar figurinhas com o pessoal do esporte, o Haroldinho, o Vidarte, o Denis Olinto. Então numa sexta-feira, lá vou eu escalando as escadas, atravessando o corredor para chegar na sala no fundo do corredor, onde a galera ficava à época. E ao passar pela redação de jornalismo, a Eliane do Canto me chama. “Rapaz, preciso falar contigo”. Eu paro. “Sim?”. “Tu trabalha no jornal, né?”, pergunta a então chefe de jornalismo da rádio. “Sim”. “Bem, tu queres trabalhar aqui na rádio?”. Puxa, ela leu meus pensamentos. Eu queria mesmo uma vaga na rádio. Se não fosse no esporte, tudo bem, topava o jornalismo. “Claro que quero. Puxa, legal. Qual a vaga?”, questiono. “É para redator, do meio-dia às cinco da tarde”. Topo na hora. Só preciso fazer os exames médicos necessários e começo e seguida. Feliz da vida, volto pra redação do CP e encontro um colega que trabalhava também na rádio, igualmente como redator. “Cara, vamos ser colegas na rádio”, digo pra ele. O cara me olha sério, e solta: “Não, tu vai entrar no meu lugar. Fui demitido”. Bah, fiquei sem jeito, mas eu não tinha culpa. E o cara nunca mais foi o mesmo, querendo uma vez sair no tapa comigo na redação. Curioso, perguntei na rádio quando comecei a trabalhar porque o cara havia sido dispensado. “Um antipático. Um antissocial”, disseram. Então tá.