quinta-feira, 25 de agosto de 2016

"Psii, psi..."

Estava no cinema assistindo o novo filme do Woody Allen, "Café Society" e numas fileiras próximas um casal já idoso, e dê-lhe conversar. O homem falava baixinho e a mulher achando estar na sala de casa. Até que de repente ele se indignou e soltou: "Pô, não precisa berrar. Fala baixinho que estamos no cinema. Ou fica quieta"... Aí me lembrei de uma vez que fui ao cinema com uma amiga minha. No mesmo local, o Espaço Itaú, que então se chamava Arteplex. E o filme, de suspense, rolando na tela. E a minha amiga, em voz alta: "Será que o fulano matou mesmo a mulher?". "Quem estará atrás da porta?". "Acho que a mulher não deveria entrar na sala", e por aí...ela ia narrando o filme e perguntando. E eu comecei a me irritar, soltando um "cala a boca, fica quieta, por favor". Bah, a guria deu um pulo na poltrona e se encolheu toda. Mas pelo menos ficou quieta. Até depois da sessão quando não quis mais falar comigo.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

"Pacaembu"

Era 1992 e eu morava em São Paulo. E numa bela manhã de sábado, sol forte, acordo e decido dar uma volta pela cidade. Ponho uma bermuda e uma camisa preta, de uma banda de metal, se não me falhe a memória Scorpions. E lá vou eu caminhando, caminhando. E de repente me deparo com o estádio Pacaembu à minha frente, aberto e vejo pessoas entrando nele. Vou atrás e quando passo pelos portões, enxergo um povo, as arquibancadas lotadas. E dou mais um passo, quando sou cercado por uns quatro seguranças, dois negros e dois brancos, de ternos pretos e com os rostos fechados. "O que você quer aqui?", me pergunta um deles, me segurando pelo braço. Tento me desvencilhar e outro me segura o pescoço. "Me larga", peço. Nada. "Quero conhecer o estádio", continuo. "Aqui não é o seu lugar. Por favor, se retire", me diz o cara. E eles já vão me puxando para fora do Pacaembu. "Por que não posso ficar?". "É um evento da Igreja Universal e você não é um dos nossos. Saia", me explica o segurança. Ah, tá, eu estava invadindo um evento de IURD e vestido como um pecador ou sei lá como eles classificam um roqueiro. Sou empurrado até o portão principal, sob os olhares de curiosos. Pelo menos não me jogaram no chão. Só me expulsaram por ser "diferente".

"Cinema Cacique"

Eta povinho ignorante. Estou indo ao supermercado Zaffari que abriu em frente ao Correio do Povo na Rua da Praia. E na entrada vejo dois caras conversando, e pego o papo já no meio. Um deles: "Como aqui era um cinema?". O outro: "Cara, aqui era o Cacique e o Scala". "Cacique? Scala? Nunca ouvi falar, não". "Como não? Quantos anos você tem?" "35". "Ah, mas então deveria conhecer sim", insiste o outro. "Bah, veio, não sei mesmo". "Cara, logo ali na porta tem umas fotos dos cinemas", aponta o cara para as fotos na entrada do súper. O pior que a besta quadrada insiste na burrice. "Tu está é inventando isso de cinema aqui..." Eu me seguro para não entrar no meio da conversa, desisto de ficar escutando o débil mental negar a existência de dois grandes cinemas de rua de Porto Alegre e vou às compras.