Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
terça-feira, 19 de maio de 2015
“Músico”
Sou um músico frustrado. Aliás, nem músico sou, mas amo música e sempre quis saber tocar um instrumento. Pois aos seis anos de idade, tive a chance de receber aulas particulares, todos os sábados, lá pelas 18h. O problema é que meu professor era uma pessoa tri problemática, tanto que em 1982 simplesmente enfiou uma bala na cabeça, depois de um final de semana deprê. Pois bem, lá estou eu, um piá querendo tocar violão. E o meu professor, Antônio Augusto, filho de um desembargador padrinho de minha mãe, decidiu me dar aulas. E sem a mínima didática e paciência. Ele ia me ensinando a maneira de segurar o violão, as notas e eu ali, extasiado, querendo tocar o tema dos documentários do Jacques Costeau, que passava na tevê nos sábados, antes das aulas, na antiga Difusora, hoje Bandeirantes, ou então o tema dos Banana Splits, lá, lá, lá, lá, lá, lá...eu ainda não conhecia o rock’n’roll. E eu errava as notas, ele tirava o violão das minhas mãos, me mostrava como fazer as notas e me devolvia o instrumento e eu errava, errava de novo, de nervoso. Mas persistia. Até que num certo dia, o Antônio Augusto perdeu a paciência depois de eu errar novamente uma nota. E o que ele fez? Arrancou o violão de minhas mãos e o jogou na minha cabeça. Coloquei as mãos como defesa e o instrumento caiu no chão, se arrebentando. “Guri burro, guri burro. É tão simples”, berrou o professor, e o meu choro tomou conta da sala. Nunca mais voltei a tentar aprender a tocar qualquer coisa.
“Escada Rolante”
Vocês vão pensar que é sacanagem, mania de perseguição, mas realmente aconteceu com uma senhora. Foi lá por 2003, 2004, lá no Bourbon Country. Eu saí do cinema por volta das 20h e pensando em pegar o ônibus e retornar para casa de uma vez. Pois chego na escada rolante e vou descendo e na minha frente uma senhorinha de seus 70 anos. Como a escada tem espaço para mais de uma pessoa de uma só vez, passo por ela. E de repente escuto: “Você não tem educação. Socorro, socorro”, berra ela. Olho para trás e a vejo apontando o dedo para mim. “Você não pode passar por mim. Não pode, não pode”, repete ela. “É comigo?”, pergunto. “Tu é muito cara de pau, rapaz”, me diz ela. “Mas o que eu fiz?”, questiono. “Eu estava na frente e tu não pode passar por mim”, diz a senhorinha, já chamando o segurança, que corre em minha direção e vai pegando o meu braço. “Este rapaz passou por mim na escada rolante”, denuncia ela. “Mas tem espaço suficiente para umas três pessoas passarem ali”, digo. “Tu não pode passar por mim”, berra a velha. “Por favor, dá para me soltar”, peço ao segurança, que não sabe o que fazer. Ele acaba soltando meu braço e eu explico que ia descendo a escada rolante e só tinha essa senhora na minha frente e dava tranquilamente para passar. Não fiz nenhuma contravenção. Porém ela se sentiu ofendida e armou um miniescândalo. “Tu é muito mal-educado”, diz a velha. Eu vou me afastando e ela não se dá por satisfeita, agora gritando com o segurança. “Faça alguma coisa”, pede ela. “Mas minha senhora, ele não fez nada errado”, fala o guardinha. Me mando dali.
“Afogado”
Em 2013 passei as férias no litoral paranaense. Um belo hotel e uma piscina só pra mim durante a semana. Era abril e não tinham outros hóspedes durante a semana. Só eu. Mas no final de semana o local ficava lotado. Tanto que um dia cheguei para tomar café e não havia cacetinhos. A senhora do restaurante disse que como só eu estava por lá, eles não haviam providenciado o “pãozinho francês”, mas poderia pedir pro boy buscar na padaria mais próxima. Só que havia pão feito em casa. Então tudo bem. Pois num final de tarde decido entrar na piscina, por volta das 17h30min. Ninguém mais por perto. Só eu. Ponho os pés na água, gelada. Aí vou entrando aos poucos, até o corpo se acostumar com a temperatura. Então com o corpo bem ambientado, dou umas braçadas e vou da parte rasa para a parte mais funda, cerca de três metros de profundidade. É quando ocorre o problema. Sinto câimbras e vou afundando. Tento voltar, mas não consigo. Vou sendo puxado para baixo. E é quando penso: “então é assim? Vou morrer afogado e mais tarde, quando um funcionário vir limpar a piscina, vai dar de cara com meu corpo boiando na água...”. Bato os braços e nada, nada, nada. Me fudi. Então penso: “ Nada de desespero. Respire fundo e tente chegar na beira da piscina”. Começo a me mexer, bater os braços e enfim, depois de engolir um bocado de água, consigo chegar na beirada da piscina, onde me seguro na borda, ofegante, apavorado, mas vivo. Que cagaço.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
“Assalto”
Lá por 2009, 2010, todos os sábados eu ia ao cinema no GNC Moinhos na sessão das 19h, 20h. Na volta, por volta das 23h, 23h30min, sempre pegava o T3 ali no Parcão, e quando chegava na parada da Icaraí quase esquina Campos Velho eu descia do ônibus. E várias vezes eu vi o veículo, vazio, entrar na Campos Velho ao invés de ir para o final da linha, no BarraShopping. Então num sábado, o T3 está na Icaraí, e apenas eu, a cobradora e o motorista lá dentro. Pô, então eu penso, bem que poderia pedir para ficar no ônibus e descer em frente ao prédio onde moro, e não precisar caminhar quatro quadras se ele entrasse na Campos Velho, onde moro. Como estou lá atrás, nos últimos bancos, me levanto e vou em direção a cobradora. “Moça”, chamo. No mesmo momento ela dá um berro: “Não, não, por favor, hoje não, não nos assalte”. Eu paro no meio do corredor, assustado. “O que foi, o que foi?”, olhando para trás, talvez houvesse mais alguém no ônibus, um ladrão, mas não, apenas eu de passageiro. Ela está de braços levantados e o motorista vai freando o ônibus. Aí entendi. Ela viu aquele negão levantando e indo em sua direção e pensou em assalto. “Não, não, só iria perguntar para vocês se o ônibus vai entrar na Campos Velho e se eu poderia ficar nele até descer em frente ao meu prédio...”, digo. “Menino, que susto”, diz a cobradora. “Pô, tu vê um negão e já pensa em assalto”, falo. “Não, não foi isso. É que nesta semana um cara ficou sozinho no ônibus, levantou, veio até aqui e colocou uma arma na minha cara. E era loiro”, conta a cobradora, aliviada e já dando risada. O motorista também entra no papo e poucos minutos depois me deixam bem em frente ao meu prédio, são e salvo.
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