Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
domingo, 28 de janeiro de 2018
"Segurança"
Só pode ser sacanagem. Há alguns anos estava saindo de um show no Opinião
usando uma das minhas tradicionais camisetas pretas de banda de metal. Aí uma
guria para do meu lado, e me chama: “Por favor, seu segurança, dá para dar uma
ajudinha aqui, que minha amiga está tonta”. “Olha, até posso ajudar, mas não sou segurança. Estava lá curtindo o show”, digo.
Não recordo mais qual era a banda que tocou aquela noite. A guria olha pra mim,
abaixa a cabeça, vê o logo da camiseta, e: “Putz, me desculpa. Jurei que tu era
segurança”, completa. “Claro, negão, alto, conclusão: segurança. Imagina se eu estaria aqui não fosse
isso”, disparo. Ela não nega. Bem, agora estou na beira da praia, cobrindo o litoral pelo jornal. Tenho de achar
um case para a matéria e fico observando os veranistas. Meus trajes? Bermuda e
camiseta preta de banda. Aí uma senhora sai da água e vem em minha direção.
“Moço, moço”, grita ela. “Sim?”, digo. “O senhor é segurança aqui na praia?”,
dispara ela. “Ah, claro, um negão de 1,90m de preto só pode ser segurança”,
reclamo. Ela fica vermelha, e tenta consertar: “Não, não quis dizer isso”, garante.
“Quis sim, não vou bater na senhora”, afirmo. “É, achei sim”, reconhece ela,
pedindo mil desculpas e saindo às pressas. Horas depois estou no saguão do hotel
em que a equipe do Correio do Povo se hospeda, esperando que a galera se
organize para a gente sair pruma pauta. Vem um casal na minha direção: “Ei
rapaz", diz o cara. “Sim?”, devolvo. “Você é o segurança aqui?”, pergunta. Mas que
porra é essa? De novo? Ao invés de responder, me dirijo para o carro do CP, com
aquele logo gigante. E abro a porta. Aí sim: “Não senhor. Sou jornalista”,
entrando no carro. O casal fica vermelho e sai bem rapidinho, com a moça
puxando o braço do marido. Para bom entendedor, meia palavra ou gesto bastam.
"Sambista"
Estamos eu, a fotógrafa Alina e o motorista Válter no restaurante do Hotel Figueiras, se preparando para jantar, depois de um dia corrido na cobertura de praia. Aí me sirvo, e o Valtinho está lá, no buffet, quando chega um garçom nele: "E aí, tudo bem? E cadê o Mr. Catra?", pergunta, apontando para mim. De longe eu escuto e protesto: "Pô, Mr. Catra não". Aí o garçom me ouve e se dirige para a mesa em que estou jantando. "Meu véio, fiz um elogio para ti". "Não, para mim é uma ofensa. Me chamar de Mr. Catra", reclamo. O Valtinho chega e diz: "Logo o Chicão, que não gosta de funk e rap". "Ah, então ele gosta de samba, né?", tenta deduzir o garçom. "Não, ele é do rock", ensina o Valtinho. "Mas como, tem de ser samba, ele é negro!", prossegue a pessoa. "Não, meu amigo, não gosto de samba, pagode, funk, rap, hip-hop, sertanejo", vou informando. "Mas está no sangue do negro ser sambista", insiste o garçom. "Quem te deu essa informação?", pergunto. "Ah, tenho um filho negro que é sambista, e todo o negro tem o samba no sangue", continua insistindo o cara. "Puxa, tu ouviu falar em estereótipos?", reclamo. O cara fica me olhando com uma cara de quem não está entendendo nada. "Vim da África, moro em uma cabana, caço animais com uma lança e flecha e ando de tanga e ainda como carne humana", vou enumerando. "Ah, e ainda faço música num tambor", continuo. "Não conheço nenhum negro que não goste de samba", constata o garçom. "Prazer, então sou o primeiro. E deu pra mim, fui", digo, me levantando e deixando o restaurante antes de mandar a figura tomar no cu.
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