domingo, 28 de janeiro de 2018

"Sambista"

Estamos eu, a fotógrafa Alina e o motorista Válter no restaurante do Hotel Figueiras, se preparando para jantar, depois de um dia corrido na cobertura de praia. Aí me sirvo, e o Valtinho está lá, no buffet, quando chega um garçom nele: "E aí, tudo bem? E cadê o Mr. Catra?", pergunta, apontando para mim. De longe eu escuto e protesto: "Pô, Mr. Catra não". Aí o garçom me ouve e se dirige para a mesa em que estou jantando. "Meu véio, fiz um elogio para ti". "Não, para mim é uma ofensa. Me chamar de Mr. Catra", reclamo. O Valtinho chega e diz: "Logo o Chicão, que não gosta de funk e rap". "Ah, então ele gosta de samba, né?", tenta deduzir o garçom. "Não, ele é do rock", ensina o Valtinho. "Mas como, tem de ser samba, ele é negro!", prossegue a pessoa. "Não, meu amigo, não gosto de samba, pagode, funk, rap, hip-hop, sertanejo", vou informando. "Mas está no sangue do negro ser sambista", insiste o garçom. "Quem te deu essa informação?", pergunto. "Ah, tenho um filho negro que é sambista, e todo o negro tem o samba no sangue", continua insistindo o cara. "Puxa, tu ouviu falar em estereótipos?", reclamo. O cara fica me olhando com uma cara de quem não está entendendo nada. "Vim da África, moro em uma cabana, caço animais com uma lança e flecha e ando de tanga e ainda como carne humana", vou enumerando. "Ah, e ainda faço música num tambor", continuo. "Não conheço nenhum negro que não goste de samba", constata o garçom. "Prazer, então sou o primeiro. E deu pra mim, fui", digo, me levantando e deixando o restaurante antes de mandar a figura tomar no cu.

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