terça-feira, 13 de maio de 2014

“Cigarro”

Nunca gostei de cigarro, já contei isso aqui. Até deixei uma namorada sozinha num bar uma vez, ao vê-la acender um cigarro. Então há uns 30 anos estava em Gramado, desci o Caracol, subi, almocei e me estirei no gramado em frente ao restaurante. Do meu lado um rádio-gravador daqueles grandões, emprestado pelo Alemão Sérgio, e no toca-fitas rolando um heavy metal. Eu pus os fones, fechei os olhos e estou lá curtindo o Accept. De repente sinto um forte cheiro de cigarro vindo em minha direção. Abro os olhos e tem um carinha sentado bem do meu lado, fumando. “Pô, cara, tu poderia fazer o favor de fumar noutro lugar?”, peço, educadamente. O carinha me olha, e solta uma baforada na minha cara. “Não!”, responde ele. “Bah, na boa, olha o espaço livre para tu fumar, e tu vem fazer isso do meu lado. Sacanagem, né!”, digo. “Véio, tá te incomodando? Sai fora”, dispara. “Porra, cara, eu cheguei antes e tou de paz aqui”, retruco. E o que faz o fumante? Levanta e chuta o rádio, que voa longe, soltando fita pra fora. Putz, na mesma hora eu me levanto, e parto pra porrada. Nos engalfinhamos ali na grama, aos socos e pontapés, até que somos apartados por pessoas que passam por ali. “Idiota”, berro. “Imbecil”, retruca ele, com as pessoas nos segurando. “O quer houve?”, pergunta alguém. Digo do cigarro fumado na minha cara. “Mas isso, que bobagem...por causa de um cigarrinho...”, ouço as pessoas falarem. Lembrem-se, estávamos na década de 1980, onde as pessoas fumavam em ônibus, elevadores, hospitais e até mesmo no cinema. Eu fiquei sendo visto como um ET. Abaixei, peguei o rádio, a fita, e tive de me retirar do meu cantinho, expulso por um fumante. Ah, fumantes...

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