sábado, 15 de agosto de 2015

TEATRO

Estudava francês na sexta série. E não sei por que cargas d'água a professora decidiu que faríamos uma peça teatral na língua de Balzac para os colegas do Paula Soares, já que ninguém entenderia o que falaríamos. A apresentação seria no auditório da escola, que fica ali na General Auto, ao lado do Palácio. Ficamos ensaiando por uns três meses e eu ganhei um dos papéis principais. Ou seja, tinha várias falas, que decorei entusiasmado. E eis que chegou o dia apresentação. Olho por trás das cortinas e vejo o auditório cheio, murmurinhos, risadas abafadas e os professores pedindo silêncio. Na primeira fila estava uma menina por quem eu tinha uma paixão platônica, o nome dela era Flávia. Era muito séria, nunca a vi dar uma risada. As luzes se apagam e começa a peça. Levaria um tempinho ainda antes de entrar em cena. Seguro o roteiro, dou uma última lida e chega a minha vez de aparecer no palco. Vou declamando o texto, olhando para a minha colega de ato, mas então cometo o erro de olhar para a plateia e encaro a Flávia, que me olha bem nos olhos. E então eu esqueço completamente o texto. Simplesmente não consigo me lembrar uma única palavra. Fico ali, estático no palco, tentando não entrar em pânico. Gaguejo alguma coisa e não consigo tirar os olhos da menina. Então recomeçam os burburinhos, e o silêncio se faz. Para mim parece a eternidade, e consigo escutar uma mosca voando no recinto. E nada de lembrar do texto. Até que meu colega Orlando, de trás do palco, começa a sussurrar para mim os meus diálogos, e vou repetindo o que ele vai ditando - tremo todo, começo a suar, até terminar o tormento. A peça acaba, e ninguém bate palmas diante daquele rotundo fracasso. Silêncio. E alguém puxa palmas tímidas e todo o auditório o segue. E eu fujo do palco, querendo me enfiar no primeiro buraco.

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