Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
sexta-feira, 12 de junho de 2015
“Carne de porco”
Mais uma do Chile. Eu e a minha namorada da época conseguimos marcar uma viagem para conhecer a Terra do Fogo, e o mais legal, seria feito de trem. Partiríamos numa segunda-feira. No sábado fomos a um shopping almoçar. Eu olhava os restaurantes e nada me agradava. Até encontrarmos um bem simpático. Pedimos o menu. O garçom vem, nos entrega e eu vou lendo. “O que é cerdo?”, pergunto. “Cerdo eres cerdo”, responde ele. “Sim, sim, mas carne do que é cerdo?”, insisto. Então partimos para a linguagem universal. Gestos e som. Imito uma galinha, cachorro. E ele entende. E imita um porco. “Ah, porco, óinc, óinc”, falo. “Sim, sim, chancho”, retruca ele. Tá aí, peço carne de porco, que devoro ferozmente. Na madrugada de domingo minha barriga começa a doer, doer e doer muito. Vou ao banheiro, que para o meu tamanho é minúsculo – os chilenos são baixinhos, então para mim tudo é pequeno. E nada saí. Fico roxo, verde, gemo de dor, me deito em posição fetal. A minha namorada não sabe o que fazer. Pela manhã a situação está insustentável. A guria desce atrás de remédios. Tomo e efeito zero. Lá pela uma da tarde parece que vou morrer. Ela chama o gerente. Que vem correndo e chama uma ambulância. Mas aí lembro de quando fomos na agência em Porto Alegre comprar a viagem. A vendedora perguntou se queríamos fazer seguro-viagem. “Não, o que pode nos acontecer?”, respondi. Bingo. Sem seguro-viagem não poderia ser atendido. Às duas da tarde o hotel entra em contato com a embaixada brasileira, que mantinha um funcionário de plantão aos domingos. Ele se dirige ao hotel, me vê ali, gemendo e verde, vai ao telefone e logo estou sendo encaminhado para um hospital particular, que atendia brasileiros em caso de emergência, e a embaixada bancava o serviço. Onde sofro uma lavagem estomacal e o médico constata que aquilo é culpa da carne de porco que comi na véspera. “Moreno, debes tener cuidado com ló que comes”, avisa o médico. “E fazer seguro-viagem”, completa o funcionário da embaixada, me dando um tapinha nas costas. A viagem acabou sendo suspensa por ordens médicas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário