sexta-feira, 12 de junho de 2015

“Clássico”

Santiago do Chile, em 1997. Estava no quarto de hotel, vendo tevê, quando vejo o anúncio de que no domingo tinha clássico entre Colo-Colo e Universidad Católica no Estádio Nacional, aquele lugar infame onde Pinochet mandava torturar os presos políticos durante o Golpe de 1973. Tinha de ver este jogo e conhecer o estádio. Será que conseguiria ingresso? Consegui a informação de que como o mandante era o Colo-Colo, os ingressos tinham de ser adquiridos na sede do clube, odiado pela elite branca, que o considera o time dos indiozitos. Conseguimos os ingressos, dois por 20 dólares. Pois domingo nos dirigimos para o estádio. Estávamos atravessando uma longa avenida e visualizamos o local. E de repente escutamos cantorias vindo dos dois lados da avenida. E nós bem no meio dela, quando enxergamos as torcidas dos dois times vindo de lados opostos, com bandeiras, pedaços de pau, muitos com o rosto coberto com lenços. E de repente eles partem para a mesma direção e começam a se digladiar. Minha namorada começa a gritar e puxo ela prum canto. Voam pedras, bombas. Então aparece a polícia, muitos montando cavalos e descendo a porrada nos torcedores. Como eles não sossegam, aparecem aqueles tanques jogando jarros de água na turba. A água bate no peito de alguns, que voam longe. Após uma batalha campal de uns 15 minutos, conseguimos ser escoltados para dentro do estádio, junto com outros turistas que tiveram a brilhante ideia de ver aquele derby. Lá dentro ficamos numa das laterais, em bancos que eram feitos de troncos de árvores. As duas torcidas ficam atrás das goleiras, e o campo é cercado de arame, e muitos tentam pular para dentro, e a polícia dá cacetadas nas mãos deles, que caem de dois, três metros, tentam voltar e são novamente rechaçados. Começa o jogo às 17h e logo começa a escurecer. No intervalo decidimos ir embora, pois ficamos pensando o que poderia acontecer ao final da partida, no meio da escuridão.

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