Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
“Amantes”
Às vezes não resisto a uma boa sacanagem. Lá por 1991, 1992, o Jaime me encontra, e todo feliz diz estar namorando. Conheceu a menina de seus sonhos e garante estar profundamente apaixonado. “Tu precisa conhecer ela. Ela é linda, acho que vou casar com ela”, jura ele, olhinhos brilhando. Combinamos de então na sexta-feira tomar um café no Rua da Praia Shopping lá pelas sete da noite, para ele me apresentar a menina dos sonhos. E no dia combinado, cai a maior água em Porto Alegre, mas não é isso que vai nos impedir. Estou lá, sentadinho no café e ele chega de mão dada com uma menina de cabelos bem curtinhos. “Chico, esta é a Cláudia”, apresenta o Jaime. Olho praquela guria e tenho a impressão de que a conheço. Mas daonde? Bem, pedimos capuccinos, e enquanto esperamos sermos servidos, vamos nos apresentando. E de repente recordo. “Tu por acaso não é a filha do seu Cizinho e da dona Cleci?”, pergunto. A Cláudia me olha: “Sim. Tu também não me é estranho”, diz ela, “É que tua mãe é a melhor amiga da minha mãe, a Flora”, lembro ela. “Sim, sim...puxa, mas não te via há muito tempo”, continua ela. O Jaime ali sorvendo seu café, e nos olhando. Eta mundinho pequenho, Então baixa o espírito de porco em mim. “Cláudia, legal te reencontrar. Mas não sei se o Jaime te contou...”. “Contou o quê?” “Ora, por que tu acha que ele fez tanta questão de me apresentar pra ti?”, questiono. “Ora, tu é o melhor amigo dele”. “Tu acha que é só isso?”, continuo. O Jaime nos olhando. “Acho”. “Pois bem, serei honesto contigo, já que ele não foi”, falo, pegando a mão do alemão. “Nós somos amantes”, digo, olhando nos olhos do Jaime, que fica muito, mas muito vermelho. O Jaime se engasga com o café, fica vermelho, muito vermelho. “Oh...”, solta a Cláudia, não querendo acreditar na revelação e quase levantando. “Tou brincando, Cláudia, tou brincando...”, reparo, para alívio da Cláudia, mas o Jaime continua vermelho. “Jaime, toma uma atitude e diz pra tua namorada que estou de sacanagem, cara”, digo. “Porra, Chico, tu é foda, quer bagunçar meu namoro?”, consegue falar ele. Eu e a Cláudia começamos a rir sem parar. Ela sacou a brincadeira, mas para o Jaime faltava um pouco de senso de humor, e a futura esposa dele quase embarca na indecisão do alemão.
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