Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
terça-feira, 6 de agosto de 2013
“Desperdício”
Recém separado de um relacionamento de seis anos, costumava reunir os amigos em casa para jantas, cafés coloniais, e vinho, muito vinho, sempre com trilha sonora bem rock’n’roll. Não havia depressão, era muita bagunça com a galera, ao contrário do que ocorreria no relacionamento seguinte. Bem, um dia o Roque Dalmut, diretor do Zequinha, deixa uma mensagem no meu celular: “Chicão, tá precisando de combustível, quando precisar é só me ligar. Um abraço!”. Eu não entendi, afinal de contas não tinha carro e nem pretendia possuir um. Falo com o Ilgo Winck e o Renato Gava. “Ah, Chico, combustível deve ser bebida”, me avisam. E era. O Roque era dono de uma importadora de bebidas. Então vamos lá na loja eu e o Gava buscar duas caixas cheias de bebidas. Vinhos, uísque, vodca, rum e por aí em diante. Distribuo algumas bebidas pra gurizada e mantenho comigo os vinhos chilenos e argentinos. No final da tarde de sábado recebo a visita do Jaime e da Cláudia, que ainda não eram pais do Pedrinho. Preparamos uma lasanha e abro a primeira garrafa de Casillero del Diablo. Só eu e o Jaime bebemos, a Cláudia fica na Coca-Cola. Finalizamos a primeira garrafa e abrimos a segunda. Consumida em minutos. “Meninos, acho que vocês devem parar agora”, diz a Cláudia. Estamos alegrinhos, falando bandalheiras, e discordamos dela. É aberta a terceira garrafa. Tudo começa a girar, mas não paramos. Decidimos ir pra quarta garrafa, que está na caixa na cozinha. Eu levanto a caixa, e o peso das garrafas cheias, mais de 12!, faz com que o fundo se abra. E todas, todas as garrafas se espatifam no chão, para nosso desespero. Principalmente o Jaime, que não pensa duas vezes, e começa a lamber o vinho derramado pelo chão, como fosse um cachorrinho. A Cláudia ouviu da sala a explosão, correu pra cozinha e vê o marido naquela posição. Põe as mãos no rosto, tal qual Macaulay Culkin em Esqueceram de Mim. E só consegue falar: “Meu Deus, Jaime, que vergonha, que vergonha”. Ele, bebaço, olha pra ela e responde, com a voz enrolada: “Vergonha é desperdiçar este vinho”.
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