Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
“Te vira”
Nos meus tempos de DJ, em que muitas vezes o pagamento que recebia era uma garrafa de Coca-Cola, uns negrinhos, uns cachorros-quente e um pedaço de torta, desde que não fosse de coco, um colega pediu que eu colocasse som em seu aniversário de 18 anos. Sem problema, disse. E como desde sempre fui um sem carro, eu necessitava de caronas para levar o equipamento de som e os discos, que tenho até hoje. O pessoal que solicitava meus trabalhos, e tinha gente de Gravataí, Viamão, Porto Alegre, Canoas, dava um jeito de pegar o material na minha casa. Pois bem, foi a única exigência que fiz ao aniversariante. E a resposta que recebo em troca: “Ah, cara, te vira. Só esteja no clube lá pelas oito da noite”. Ouvi aquilo como se levasse uma facada. Putz, nem um “ah, pago o táxi, peço pra alguém pegar o som e os discos na tua casa, nada. Só um te vira”. Tudo bem. Chega a data da festa. E eu me viro mesmo, na cama, de um lado para o outro. Fico vendo Primeira Exibição na Globo, bem tranquilo, nada de remorsos, tomando Coca-Cola e comendo pipoca. E como naquela época não existia celular e eu nem tinha telefone em casa, não fui encontrado. No dia seguinte, dou de cara com o aniversariante na rua. Possesso comigo. “Como tu me deixa na mão”, diz ele, tentando me socar. “Velho, eu não deixei ninguém na mão. Eu só te pedi uma coisa”. “Eu também, e fui traído. Isso não se faz”, berra ele, tentando me socar de novo. Virei as costas e fui embora. Como fazer o indivíduo entender que ele foi o egoísta e não eu?
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