sexta-feira, 2 de agosto de 2013

“Prefeito”

O Possas era repórter de Geral na Rádio Guaíba, mas às vezes quebrava o galho no Esportes. E naquela tarde de quarta-feira chuvosa ele estava escalado para cobrir um jogo do Grêmio no Olímpico pelo Gauchão em meados da década de 1990. E feliz da vida por lembrar seus tempos de Band. Pois o Adinho chega na redação, e recebe uma notícia não muito agradável da chefe de reportagem Eliane do Canto: o prefeito de Gravataí acabara de falecer e ele teria de cobrir o velório ao invés do futebol. Reclamou, reclamou, deu aqueles pitis que só quem conhece o Adinho sabe, mas foi para Gravataí. O motorista era o Salgadinho. O Possas chega no local, entrevista o vice-prefeito, alguns familiares, e pelo rádio pergunta se pode voltar pro estúdio, e escuta uma negativa. Tem de ficar até o final. E começa o stress. Em frente ao caixão, começa um de seus tradicionais discursos de reclamação: “Que merda, este imbecil tinha de morrer logo hoje. O ano tem 365 dias, e ele morre agora que eu iria fazer um joguinho. Morto de merda. Eu odeeeiooooooooooo este cara!”, berra o Possas para a Eliane, que da redação pede pro Adinho se acalmar, e baixar a voz. O tiro sai pela culatra. “Por que não esperou pra morrer amanhã...” Só que o piti do intrépido repórter está sendo feito bem em frente à família do falecido, que está achando aquele espetáculo nada agradável. “O senhor poderia respeitar nosso ente querido?”, pedem os familiares. E o microfone aberto, e toda a redação escutando os acontecimentos. E o Possas responde: “Não, não, ele está atrapalhando a minha vida”, garante. O motorista Salgadinho age rápido, puxa o Possas, os dois correm para dentro do carro da Guaíba, trancam as portas, enquanto uma turba tenta virar o veículo. O Salgadinho, então, sai do carro e pede desculpas para todos. “Tudo bem, mas tira este rapaz alterado daqui”, pede a viúva. “Eu não sou alterado”, reclama o Adinho. “Possas, cala a boca, e volta”, encerra a Eliane.

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