segunda-feira, 5 de agosto de 2013

"Saudade"

Uma namorada que tive reclamava de meus horários confusos no jornal. Sábados pela manhã, domingos tarde e noite, todas as noites da semana. Acabávamos nos vendo aos sábados, domingos pela manhã e nas minhas folgas, nas segundas. "Estou com saudades", dizia ela. "Eu também", garantia. "Então sai do trabalho e vem me ver", pedia ela, às seis da tarde. "Mas não posso simplesmente levantar e ir embora", dizia. "Tu não quer me ver", reclamava ela. "Quero sim, mas simplesmente não posso sair agora", jurava. E ela reclamando. Aos domingos, lá pelas 15h eu tinha de dar tchau e me mandar pra redação. "Por que tu não mata o serviço e fica aqui comigo?", pedia a guria. "Não posso. Quem vai pagar as minhas contas, colocar comida na mesa?", eu falava, indo embora e ela ficando de beiço. "Tu não gosta de mim". "Gosto, mas tu está desempregada e eu não posso ficar....", constatava. Então dois dias sem nos vermos, e ela ligava: "Chico, tou com saudade". "Também estou. E até é legal sentir saudades". "Mas por quê? Tu não quer me ver?" "Não, sentir saudades é bom, pois quando nos vermos, vai ser mais legal, mais romântico", analisava. "Tu não gosta de mim!". "Gosto, tu não está entendendo. Saudade é um sentimento gostoso. Imagina se a gente vivesse grudado, toda hora junto, acabaríamos enjoando". "É porque tu não gosta de mim, não quer ficar comigo", protestava. "Assim é difícil, quero dizer que é bom ficar uns dias sem nos vermos, aumenta o sentimento". "Tu não quer me ver....". Difícil.

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