sexta-feira, 26 de julho de 2013

“Agora?”

Os pais do Marco Antônio já tinham quase sessenta anos, e a gente imaginava que eles nem transassem mais. Um sábado de inverno, frio, chuva, a turma decide ir dançar no Partenon Tênis Clube. Cada integrante da turma vai passando na casa de outro, e assim por diante, aumentando o quórum. Depois de oito casas e oito pessoas arregimentadas, resta o Marco Antônio, que está jantando pela terceira vez em duas horas. “Cara, vamos lá, tá pronto?” “Tou acabando aqui”, diz ele, limpando o resto da sopa com uma fatia de pão, e correndo pra escovar os dentes. “Deu, pronto”. “Mas tu vai sair assim? Tá frio e chovendo lá fora”, avisa o Fernando. “Esperem, que vou pegar meu casaco”. E nada de achar o casaco. “Mana, viu meu casaco”, pergunta ele pra Gorete. “Acho que vi na cadeira no quarto do pai”, informa a guria. “Bah, é mesmo”. São onze da noite, e a porta dos pais dele está fechada. Devem estar dormindo. O Marco Antônio bate na porta e nada. Bate de novo. Nada. “Pai, mãe”. Nada. Então ele gira a maçaneta, e ah, não está trancada, entrando no quarto. “Agora, Marco Antônio, agora? Logo agora?”, berra o velho. A turma escuta os gritos e corre pro recinto, vendo os pais dele, nus em pelo, um sobre o outro. O Marco Antônio corre, pega o casaco, e ninguém ri, ninguém ri. Aos olhos de um bando de adolescentes nos anos 1980, a cena foi muito bizarra. Assustadora. Só meia-hora depois, o Lauro faz uma piada, e todos lembram do momento, e começam a rir. E durante um ano, toda a vez que o Marco Antônio falava algo, alguém soltava a frase mágica: “Agora, Marco Antônio, agora?”.

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