quinta-feira, 11 de julho de 2013

"Celular"

Há alguns anos, uma repórter do Correio do Povo casou e era apanhada todos os dias em frente ao prédio do jornal, na Caldas Júnior. Mas com o tempo, essas gentilezas do carinha foram escasseando. A guria, no auge da beleza de seus 20 e poucos anos, recebia olhares gulosos dos colegas. E um dos repórteres, um dia, saindo pra ir pra casa, viu a menina em frente ao prédio. Chovia, e ela pensava em pegar um táxi. Ele abriu a porta do carro e disse pra ela: “Entra”. “Não, não posso”. “Deixa de ser boba, somos colegas. Tu mora aonde?” “Em Petrópolis”. “Te levo”, diz ele. “Não precisa”. “Eu insisto”, A chuva aumenta e ela desiste de argumentar. E é deixada incólume em frente ao seu prédio. As caronas passaram a ser quase diárias. No Natal, a guria ganhou um celular de presente do maridão. E mal sabia lidar com aquele aparelho parecido com um tijolo. Atendia as ligações do marido, e atirava o troço dentro da bolsa de qualquer jeito. E o cara ligava várias vezes ao dia, mas nada de buscá-la, e o coleguinha a levando em casa, E as coisas começaram a esquentar entre os dois jornalistas. Escapadas no meio da tarde para algum motel. Até um dia em que estavam os dois no maior amasso dentro do carro, e o telefone dela toca. A guria leva minutos para encontrar o bicho dentro da bolsa, atende e é o marido. “Onde tu está, amor?” “Estou no ônibus. Logo chego em casa”, mente a guria. “Te espero”, diz o marido. “Já chego”, continua ela, “beijo, te amo”, e aperta impaciente uma tecla no celular, e atira dentro da bolsa. Só que ela não apertou a tecla certa, e o cara, em casa, continua a escutar vozes. A da mulher e a de um cara. E gemidos. E promessas de “ah, vou me separar dele”, “me chupa”, “pega minhas tetas”, “vou gozar”...Meia-hora depois, a guria chega em casa, e encontra o marido aos berros, arrasado. E conta o que ouviu. Ela não nega, mas garante que foi um erro, que vai acabar com o amante, que o ama (o marido). Ela realiza o prometido, sai do jornal, mas o cara ficou sempre com um pé atrás, e meses depois pede a separação. A guria acaba se mudando para outra cidade.

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