sexta-feira, 26 de julho de 2013

“Amarelos”

Uma das saias justas mais terríveis que assisti ocorreu no Cinema 1-Sala Vogue, na Independência. Sábado à noite, estreia do oscarizado Gritos do Silêncio, sobre o Khmer Vermelho e a Guerra no Camboja no começo dos anos 1970. O filme vai terminando, após mais de duas horas de assassinatos, explosões, tentativas frustradas de fuga. Entra a música Imagine, do Lennon, quando os personagens principais se reencontram e se abraçam. Choradeira no cinema, as luzes se acendem, e um carinha sentado perto de mim berra: “Bah, finalmente acabou esta porcaria. Não aguentava mais ver este monte de gente amarela na tela. Ainda bem que mataram metade deles...” Eu me viro, outras pessoas se viram, e o carinha racista se vira, e na fila de trás, uma família de asiáticos, sete, oito pessoas, entre homens e mulheres, rapazes e moças. Todos olham desconsolados para o cara, nada de mágoa nos olhares, apenas tristeza. O carinha tenta se desculpar: “Não quis dizer vocês, quis dizer lá do filme, sabe, aquela gente amarela violenta...” E ele não sabia mais o que dizer. As pessoas se levantam e um senhor toca no ombro dele: “Moço, só tá piorando. Só fica quieto”, e olha praquela familia. “Perdoem ele”.

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