Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
“Gato”
Timidez, burrice e cegueira definitivamente não combinam. Apaixonado ainda por uma namorada que me abandonara meses antes, isso lá nos idos dos anos da primeira metade dos 1990, eu sempre dava um jeito de visitar a guria para ver se ela não mudava de ideia e reatava. E nada. Uma tarde fria de inverno, saio do trabalho dela e vou chorar as pitangas com minha amiga Eliana Camejo, então produtora na Rádio Guaíba. Chego lá, ela serve um café e saio a lamentar o desprezo da ex-namorada. Na semana seguinte, o mesmo roteiro. Entro na sala e a Eliana me vê, mas não oferece a cadeira para eu sentar. E eu desfiando lamúrias. E a Eliana fazendo sinais...e eu sem entender nada. Depois de encerrar o relatório, vou embora. E horas depois, a Eliana me liga. “Tu é retardado ou o quê?” “Ãnnn?!”. “Chico, tu não viu que tinha uma guria sentada do meu lado?” “Eu não” “Pois tinha, e ela ficou ali babando, e tu falando sem parar” “Mas queria que eu fizesse o quê?” “Ora, calasse essa boca, ou no mínimo não ficasse se fazendo de coitadinho” “Mas...” “Nada de mais. A minha amiga ficou ali, te admirando e querendo saber quem tu é. Fiquei louca pra dizer que tu é um amigo meu retardado, mas deixei pra lá. É o seguinte, ela vem aqui de novo depois de amanhã, lá pelas quatro da tarde. Aparece aqui”, ordena a Eliana. Bah, me borro todo, tento inventar uma desculpa, sem sucesso. “Aparece aqui”, finaliza a Eliana. Tá bom, acabo aparecendo, tremendo todo. Entro na sala, e os olhinhos da guria brilham. Tento não gaguejar, me apresento. “Oi, Chico”. “Oi, me chamo Adriana”. Três beijinhos, tomamos um café servido pela Eliana, e eu tentando não falar da ex-namorada. A guria é bonita, fala, fala, eu tentando não gaguejar. Os minutos passam e tenho de ir embora, trabalhar. Levanto, me despeço do nada. E saio rapidamente. E a Adriana vem atrás de mim, e me segura o braço no elevador. “É assim, vai embora sem mais ou menos?” “É que tenho de trabalhar”, digo. “Mas tu não notou nada?”, pergunta ela. “Não”. “Cara, te acho o maior gato, estou apaixonada por ti desde que te vi outro dia”, dispara a Adriana, sem nenhuma vergonha. E o que o idiota faz? Ao invés de beijá-la ali mesmo, convidá-la para sair, sei lá, qualquer reação mais digna, eu simplesmente digo: “Valeu”, e entro no elevador. Não foi um valeu de desprezo. Foi de vergonha, timidez. Uma mulher linda encara um carinha normal no corredor, se declara, e o máximo que ele diz é “valeu”. Ou seja, a guria se sentiu desprezada, enxergou um fraco à sua frente, e perdi o encanto para ela. Tomei bronca da Eliana, que ficou sabendo, evidente, de minha estupidez. E ela me manda ligar para a Adriana. “Leva ela para jantar”, ordena, me dando o telefone. Eu ligo e escuto a guria dizer, após fazer o convite: “Vou ver a minha agenda e te ligo, tá?!” Estou esperando a ligação faz mais de 20 anos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário