quinta-feira, 25 de julho de 2013

“Nega Maluca”

A Soraya era uma das pessoas que cuidava de mim quando eu estava trancafiado em casa, com depressão. Ela chegava com seus pufs no formato da Minie, conversava comigo, depois que eu me tranquilizada, ia pro computador, conversar com seus mais de 500 contatos no MSN, enquanto que eu quase vegetava no sofá, arrasado pelo pontapé que havia levado de uma namorada. Eu assistia filmes, tentava me concentrar em alguma leitura. Então a Soraya levantava, se dirigia à cozinha, e ia fazer bolo de chocolate, que devorávamos na madrugada, enquanto ela contava de suas paqueras no colégio. O tempo passou, saí da fossa, volto a namorar outra menina, e a Soraya conhece um carinha, e engata um namoro. Somem os bolos de chocolate. Retomados um tempo depois, quando voltamos a ficar solteiros. Eu ligo pra Soraya: “Sô, sobe e vem fazer a Nega Maluca”. Nega Maluca e Coca-Cola ou café preto e filmes, filmes, filmes. Uma noite chego em casa, e a Sô, que estava namorando de novo, toca a campainha. Abro a porta e ela chora convulsivamente. “O que foi, Sô?” “O carinha me deixou”. “Sô, faz um bolo...”. “Isso mesmo, vou fazer um bolo”, anima-se ela, aos soluços. E enquanto vai preparando o bolo de chocolate, vai contando o pontapé na bunda, e vai virando quase todo o saco de açucar na forma. “Sô, o açucar, o açucar...” “Masssss.....eu...eu....”, e o ranho escorrendo pelo nariz dela. O jeito é fazer o bolo de novo. Os anos passaram, a Soraya conheceu outro carinha, noivou e foi embora. Aí fiquei sem quem faça meu bolo de chocolate. Até que um final da tarde desses, toca a campainha. Abro a porta e dou de cara com a pirralha da Anna Julia, filha adolescente da Rose. “Chico, pra ti”. Olho e um pedação de Nega Maluca. Mesmo que não possa e nem coma mais doces como antes, aquela iguaria ali...Pego, já pensando em devorá-lo. Aí a Anna Julia avisa: “Chico, se estiver bom, fui eu que fiz, tá? Mas se estiver ruim, foi a mãe”, e vai embora. E volta e meia a Anna Julia toca a campainha, e me entrega um pedaço de bolo. Sempre gostoso. E sempre o mesmo recado: “Se estiver bom, fui eu que fiz. Se estiver ruim foi a mãe”.

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