Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
quarta-feira, 31 de julho de 2013
“Praça”
Perto do Colégio Paula Soares tem uma pracinha, mais exatamente na Fernando Machado, não tenho passado por lá, mas havia um posto da Brigada Militar ao lado. Será que ainda está lá? Bem, na época da escola, o local servia para várias distrações. Matar aula era a menor delas. No primeiro grau a turma ia lá para andar de balanço. Um tempo depois a galera namorava por lá. E depois ia tomar vinho de garrafão comprado no Zaffari e claro...fumar um baseado, escondendo o cigarrinho do capeta quando via um brigadiano aproximando-se. Então estamos lá, eu, a Flávia, a Inês Valéria, o Ricardo, colegas que nunca mais encontrei na vida, matando aula, e sentados nos balanços. O garrafão de vinho no chão, aberto, e a gente bebia pelo gargalo mesmo, dando risada e falando do que pretendíamos fazer quando chegássemos à vida adulta. Nisso dois carinhas se aproximam, e gelamos. Sabemos que vamos nos incomodar...Eles vêm vindo, são mais velhos e maiores. Como falávamos naquela época, levaremos um atraque, ou seja, vão surrupiar nosso dinheiro, o material escolar...ih, eu tenho umas revistas em quadrinhos na pasta...”Gurizada, podem cair fora”, dizem eles. Ufa, não seremos aliviados de nossos pertences. Os dois querem a praça só pra eles pra fumar um baseado. O Ricardo, que era bem magrinho, levanta e vai saindo. Eu, cagão por natureza, também. A Flávia idem. Mas a Inês Valéria, que era casca grossa, que para quem falar palavrão era como respirar, não vai entregar tão fácil assim nosso território naquele começo de noite. Ela permanece sentada no balanço, e um dos caras pega o braço dela. “Me solta”, grita. O outro pega nosso vinho. “Caiam fora”, ordenam. E nós paradinhos. “Porra, mina, sai fora”, diz o carinha pra Inês, que fecha as mãos nas correntes do balanço. O cara puxa os dedos dela, e nada. Então ele perde a paciência, e desfere um violento soco no olho da guria, que cai pra trás. Temos de fazer algo. Corremos em direção à ela, a levantamos e olhamos feio pros dois. E eles puxam seus canivetes. Bem, acabou qualquer discussão. Pegamos nossas pastas, deixamos o vinho e vamos embora. No dia seguinte, a Inês chega à aula com o olho roxo, ainda mais evidente por causa de sua pele alva. Ela senta, a gente se olha. E caímos na gargalhada.
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