quarta-feira, 24 de abril de 2013

A cabeleira

Quando eu tinha uns 8, 9 anos, usava uma cabeleira black-power, aquela eternizada pelo Michael Jackson e os Jackson Five. E era cabelo, que quem tem cabeleira sabe os cuidados necessários. Cremezinho, xampuzinho, entre outras frescuras. E não é que numa sexta-feira a mãe chega com um creme, diziam, era especial, deixaria mais macia e brilhosa minha cabeleira. Aplicado o produto, fui dormir, pois sábado pela manhã tinha prova no colégio, de português. Pois acordo às 6h30min e vou ao banheiro tomar banho, quando tomo um susto. Mas foi um susto, pois o meu cabelo, preto, havia amanhecido vermelho. Resultado do produto mágico de minha mãe. Passo água, desesperado, tentando tirar a cor, mas evidente que não iria sair assim. Chamo a mãe, peço para ela fazer algo, mas não há o que fazer. Bem, então nada de ir ao colégio, digo. “Nananã, você vai”, decreta a dona Flora, “ainda mais que tem prova”. Choro, esperneio e perco. Mas como chegar na aula com aquele cabelo rubro? Uma touquinha. Mas ao entrar na aula, atrasado, a professora Conceição me manda tirar o adereço. Me recuso, mas ela repete, “Francisco, tira a touca, já”. Não tem jeito. Puxo a touca, e o cabelão se solta, revelando ao mundo a cabeleira do Bozo, para delírio da criançada, que se mija de rir. Um colega, o Roberto, aponta pra mim. “Ele tá usando peruca, quá, quá, quá”. Eu queria que um buraco se abrisse e eu pudesse sumir nele. Sento, faço a prova, e sentindo que todos os olhares se dirigiam para mim. Nunca a espera pelo recreio demorou tanto, e quando chega, duas horas depois, pego minha pasta, e me mando pra casa, cheio de vergonha. Na primeira hora da tarde, vou até a casa da dona Ana, que era cabelereira, e mando raspar tudo. Na segunda-feira volto ao colégio careca, mas aí é outra história.

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