Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Olhos vermelhos
Eu morava na Vasco Alves, ali perto da Praça da Bronze, com meus 15, 16 anos, e fiz amizade com uma menina judia, Márcia, que era punk. A gente ia pra casa dela escutar música, eu levava meus Lps de heavy metal e ela punha pra rodar os dela, Clash, Sex Pistols, Siouxie and the Banshees, entre outras bandas, mas também curtia vários estilos. Ela que me apresentou Tina Turner, por exemplo. E eu míope desde sempre, usava uns óculos fundo de garrafa, que odiava. Então às vezes deixava-os em casa, mas para enxergar alguma coisa eu tinha de “forçar a vista”. Numa noite eu e a Márcia estamos lá na casa dela, e bom, tá na hora de ir embora, antes que os pais dela me pedissem educadamente, sabe como é, a gente tinha de respeitar os horários na casa dos outros, e tínhamos um alarme simancol próprio – a gente sabia a hora de dar no pé, uma coisa quase automática. Aí tou saindo, indo em direção ao elevador, quando a Márcia sai correndo do apartamento, e me pega pelo braço. E se segurando para não rir. “Que foi guria?”. “A mãe perguntou pra mim se eu notei que tu anda fumando maconha, e pediu pra mim te dar um toque, pois ela acha perigoso”. “Eu?”. Ih, na época eu era imensamente caretão. “Sim, tu fica aparecendo aqui com estes olhos vermelhos, puxados...tu, he, he, he, só a minha mãe pra pensar isso...”. Sim, como eu não usava os óculos, forçava os olhos pra enxergar e eles inchavam e ficavam vermelhos. Muito vermelhos. A Márcia riu muito, pois sim, ela puxava um fuminho, e a mãe dela necas de se ligar...
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