Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
O ladrão
Eu confesso. Já roubei na vida. Com meus 17 anos, entrava nos supermercados e metia nos bolsos embalagens de pilhas alcalinas, que custavam e custam ainda hoje uma fortuna, mas imagina nos anos 1980, com inflação? E eu gastava várias delas por semana no meu walkman, ainda mais quando acionava o toca-fitas. Pois o idiota aqui entrou no supermercado uma bela tarde, e enfiou na mochila uns pacotes de pilhas. Repeti o ato mais algumas vezes naquela semana, sempre saindo ileso. Pois não é que achando estar imune, fui ao mesmo local mais uma vez, enfiei dois pacotes na mochila, comprei pão, presunto e queijo, e paguei estes últimos itens. Quando me dirigia para a porta, dois carinhas vem na minha direção, e um deles pega o meu braço direito. “O rapazinho pode nos acompanhar, por favor!”. Tomei o maior cagaço de minha vida. PQP, estava sendo pego. Uma senhorinha, da limpeza, aponta o dedão pra mim, ali na frente de várias pessoas. “É este guri, ele vem roubando pilhas há vários dias. Hoje, quando ele entrou no supermercado, eu passei a segui-lo, e ele foi direto pegar mais pilhas”, fala ela. O gerente da loja, um alemão maior do que eu, pede que eu abra a mochila, e limpe os bolsos. Eu o faço, e surgem os pacotes de pilhas. “Chamem a polícia”, pede ele a um garoto, que sai correndo. “Como tu quer fazer? Vai pagar o que tu roubou ou quer ser preso?”. Apavorado, puxo o dinheiro do bolso e pergunto quanto custam as pilhas. “Tu sabe”, diz ele. Dou o dinheiro pro caixa e penso em ir embora. “Não, tu não vai embora”, ordena o gerente. Sim, a famosa salinha escura existe, eu vi, eu fui colocado nela. Ele pede minha identidade, tira um xerox dela, me fotografam, e quando olho para a parede, vejo vários retratos dos “criminosos” flagrados no supermercado. Eu seria mais um. Aparecem dois brigadianos, e eu me vejo nos próximos 20 anos no presídio. Mas eles querem apenas dar um susto. Antes fazem todos os funcionários do supermercado desfilarem na minha frente. “Olhem bem para este rapaz, bem vestido, roubando”, diz o gerente. Olho para ele, e falo: “Puxa, tu nunca praticaste uma roubadinha quando guri?”, pergunto. “Não, eu sempre trabalhei duro para ajudar minha família”, responde ele, me dando um tapa de luva de pelica na cara. Os funcionários continuam passando por mim, alguns fazendo tsc, tsc, tsc...Eu queria morrer. Uma hora depois, sou libertado. E meses depois, lendo um artigo numa revista, descubro. “Em certa fase da adolescência, praticamos alguns atos que achamos ser coisas de pessoas invencíveis. Alguns andam de moto a 100 km por hora, outros pulam de prédios, outros picham nas alturas, outros praticam pequenos furtos (...), mas param no momento em que se machucam seriamente ou são flagrados”. Nunca mais peguei uma bala sequer sem pedir ou pagar. Lição aprendida: o crime não compensa.
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