terça-feira, 9 de abril de 2013

O cigarro da Daniela

Nunca gostei de cigarro, mas uma vez caí na tentação. Tinha uns 13 anos, sétima série, e gamei numa colega de 16 anos, que já estava no segundo grau, Daniela. Ela fumava, glamourosamente, pelo menos era o que eu achava, elegante, o cigarro entre os dedos, os olhos azuis, o cabelo preto na altura dos ombros, a calça jeans rasgada. Que faz um guri? Ora, vai lá comprar uma carteira de cigarro para parecer mais velho e tentar chegar na guria. Ela fica olhando o retardado aqui tentando tragar, se engasgar...começa a rir, tenta me ensinar a fumar, mas eu não consigo puxar a fumaça pro pulmão...pelo menos ela conversou comigo durante uma semana. Bem, naquele primeiro dia chego em casa fedendo, a minha mãe está preparando a janta e sente o cheiro. “Que cheiro de cigarro. Tu andou fumando?”, pergunta. Eu me apavoro, nego. “Se te pegar fumando, vai levar uma surra tão grande que não vai andar por uma semana”, e partindo da dona Flora, não ficava apenas na ameaça. Corro pro quarto, abro a mochila e, meu deus, como me desfazer daqueles cigarros? O jeito é levar o lixo pra fora. “O que tu tá fazendo, Chiquinho?”. “Vou levar o lixo pra rua”. “Estranho, tu nunca fez isso, deixa aí que eu levo depois”. “Não, não”, insisto. Levo o lixo, ponho os cigarros na cesta e ao entrar em casa, corro para o chuveiro, e tomo banho de roupa e tudo. O medo da surra me fez nunca mais fumar. Pelo menos o convencional. E a Daniela perdeu-se na poeira do tempo.

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