segunda-feira, 29 de abril de 2013

Amiga Punk

Em 1984, o Camisa de Vênus fez uma apresentação no Araújo Viana, no rastro do sucesso “Eu não matei Joana D’Arc”. Lá fomos eu e minha amiga punk Márcia. No dia seguinte, nos encontramos ali na Praça da Bronze, ainda roucos, para comentar o show e claro, ficar cantando as músicas – a gente sabia todas de cor e salteado. Aí vem vindo o Lula, um guri que amava Michael Jackson e estava sempre com o disco Thriller embaixo do braço. “Que vocês estão falando aí”, quis saber ele. “Do show de ontem do Camisa de Vênus”, respondo, e ele faz uma cara de nojo. “Por quê vocês escutam estas barulheiras, estas músicas de louco?”, pergunta ele. Wrong, wrong, pergunta errada. Na mesma hora a Márcia olha para ele e mete uma cusparada, mas uma senhora cusparada na cara do guri. “Porque sou punk”, grita ela, imitando o gesto do ídolo Sid Vicious. O que resta ao Lula? Ora, sair chorando. A Márcia era tão punk, tão punk, que anos depois fez concurso público, passou, começou a trabalhar, para um pouco depois, largar tudo e ir viver vendendo bijuterias na rua. Já eu fui ser funcionário público pra pagar a faculdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário