Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
A gordinha
A Daniela era uma gordinha hippie que ficava me seguindo lá no Paula Soares. Onde quer que eu fosse, lá aparecia a guria, com uma calça boca de sino rasgada, bolsa de pano à tiracolo. Mas como boa parte dos adolescentes, medo de se aproximar do alvo. Um dia estava no Marinha, jogando bola no campo de areião, sim, naquela época era de areião, e olho pro lado e lá está ela, com uma amiga. E me abana. Quase morri de vergonha. E a amiga me entrega uma carta da Daniela, se declarando. E se meus amigos vissem? Comento o caso com meu pai. “Bah, pai, tem uma guria assim, assado, que fica me seguindo, e que se declarou pra mim”. “E qual o problema? Fala com ela”, orienta o seu Chicão. “Ela é gorda”, disparo. “Sim, e qual o problema?”, continua ele, impassível. “Pai, ela é gorda”. “Bom, vamos por parte. Tu tem a cara cheia de espinhas, tem um dente acavalado (aquele que ficava sobre os outros), usa óculos, é magro que nem um bambu, né? E outra coisa, se tu prestar atenção, toda gordinha é bonita de rosto. Não sei o que tu tá esperando”. Bem, eu tentei. Aí chamei meu amigo Carlos Alberto e contei para ele sobre a Daniela. Ele quis ver quem era a guria. Eu aponto pra ela no recreio. “Izidro, ela é gordaaaaaaaaaaaaaaaaa”, decretando ali o final de meu namoro, que nem havia começado. Afinal, a gente se guiava não pelo que quiséssemos, mas pelo que os amigos achavam. Uns seis, sete anos depois, estou num restaurante almoçando com minha mãe, quando uma guria linda, tipo, deixa eu pensar, a Giovana Antonelli, sim, senhores, creiam, vem falar com minha mãe. “Oi dona Flora, como tá a senhora?”, diz a gata. “Oi minha filha, tudo bem, e a tua mãe?”, fala a Flora. “Tá bem”, responde ela. E eu ali, salivando no prato, não pelo prato. “Ah, Daniela, este aqui é o Chico, meu filho”. “Eu sei, dona Flora, a gente estudou junto no Paula Soares, mas ele não deu bola pra mim, eu era gorda”, dispara a guria. Me caem os butiás dos bolsos. Eu lembro dela, eu fico babando, querendo casar ali, naquele momento, e a vingança dela foi maligna. Beijou a minha mãe, me ignorou e foi embora, saltitando, feliz e linda da vida. No ano passado, 20 anos depois, encontrei a Daniela no Zaffari do Bourbon Country. Ela e a filha, e demos muita risada da minha imaturidade.
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