terça-feira, 4 de junho de 2013

“Consultório”

Um certo tempo atrás, por causa da depressão, vivia entupido de antidepressivos. E todo mundo sabe que estes remédios causam alguns terríveis efeitos colaterais. E um deles eu teria a constatação de modo nada agradável. Fiquei com uma guria linda numa festa e a sequência foi irmos pra casa dela. Os beijos eram intensos, os amassos, mas eu não conseguia sentir nada lá embaixo. Nada. O bichinho estava mortinho. Quando ficamos nus, a guria tentou de tudo para acordá-lo. Zero, zero. E eu querendo me atirar lá do sétimo andar. Ela passa a mão na minha cabeça. “Tudo bem, tudo bem. Vamos dormir”, diz ela. Claro que não dormi, pois passei as duas horas seguintes tentando explicar o que poderia ter ocorrido. Só parei quando notei que ela já estava no mundo de Morfeu há muito tempo. E pensei que não teria outra chance com a guria, até que ela me ligou na semana seguinte, e disse que queria me ver. Fui vê-la e de novo nada...tentamos mais umas duas vezes nas semanas seguintes, e sempre acontecia o nada, e eu já pensava em meter uma bala na cabeça, se tivesse uma arma. Não teria jeito, precisava procurar um urologista. Fui nas páginas amarelas, catei e fiquei ligando. “Aceita Unimed, aceita Unimed?”. Marquei a consulta, e me fui pro consultório. Chego lá, e quando olho, tem uns seis velhinhos na sala de espera. Ficam me olhando, um misto de espanto, e outro de satisfação por ver alguém mais jovem “se foder direitinho”. Eles sabem porque estou ali. Sento e abro um livro. Sou avisado pela secretária que serei atendido logo. “Ok, mas e estes senhores?”, pergunto pra ela. “Ah, eles chegaram muitooooo cedo à consulta. É sempre assim”, ela me informa. Afinal, eles não têm o que fazer mesmo no resto do dia, então vão pro consultório zoar da cara do pessoal mais novo que anda brochando, fico imaginando. Nisso, abre a porta da sala do médico e...dela sai uma ex-colega minha do tempo do colégio com uma daquelas maletas de amostras médicas. A guria me olha bem nos olhos, feliz por me rever depois de tantos anos. “Izidroooooo”. Engulo em seco. PQP. Merda de mundo pequeno. “O que tu faz aqui?”, pergunta ela, que virou representante de produtos médicos, antes de completar. “Ih, não precisa explicar. Entendi”, me dando um tapa no ombro, daqueles que significam “sou solidário no seu sofrimento”, e sai porta fora. Deu, agora todo o Paula Soares vai saber que o Izidro foi procurar um médico especializado em disfunção erétil. “Sr. Francisco”, chama o médico. (continua)

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