quinta-feira, 27 de junho de 2013

“Tijolão”

Outro dia uma colega foi passar o número do telefone dela pra mim. Ela começou a ditar os números. “Digita aí”, disse a Andréa. Ao invés de colocar o número no meu celular android, eu saco minha agenda mulambenta, peço a caneta pra ela, abro na letra “A”, e peço para ela repetir. “Mas Chico, porque nesta agenda e não direto no telefone?” Norma de mais de uma década. E recordo que na fila do supermercado, finalmente depois de respirar fundo, consegui chegar naquela morena que me olhava. “Oi”. Ela me encara e dá um sorriso meigo. “Oi”, responde ela. Silêncio. Penso: fala algo, fala algo. Sim, geralmente quando me aproximo de uma mulher, volto a ter 10 anos de idade, além de deixar bem evidente minha gagueira. “Oi, meu nome é Francisco”, me segurando para não fazer nenhuma piada na sequência, tipo “oi, meu nome é Francisco e sou alcoolatra”. “Oi, Francisco”. Tá, e aí, fala alguma coisa, idiota. “Me desculpe chegar assim, não sou nenhum maluco, apesar de estar parecendo. É que entrei no súper, vi você, e te achei linda, fiz minhas compras, e aí dou de cara com você de novo. Aí me deu uma vontade de conhecê-la”. “Tudo bem”, diz ela, estendendo a mão direita. “Meu nome é Carla”. A fila vai andando e vamos conversando, timidamente. Ela paga as compras dela, e me espera. Pago as minhas, pego as sacolas, e saímos para o pátio do supermercado. “Seria muito abusado eu pedir teu telefone? Gostaria de te ver novamente. Posso?”, digo, pausadamente. Carla balança a cabeça positivamente. “Tem como anotar?”. Merda. Não estou com caneta...ah, mas estou com meu então moderno celular da Nokia, um troço de quase 500 gramas. Ela me diz o número e eu digito no aparelho, todo pimpão. A menina me dá três beijinhos no rosto. “Me liga, hein, Francisco. Sexta, sexta...lá pelas oito da noite, aí a gente combina algo”, pede a Carla. Ora, com um pedido destes...a sexta-feira vai se aproximando, chega, falta pouco para as oito da noite. O nervosismo começa a bater. Pego meu Nokia, e antes de ligar para a Carla, vou ao banheiro dar uma mijada pra aliviar. Ponho o telefone em cima da pia. Lavo as mãos, e pego o aparelho. Mas as mãos não ficaram completamente secas, e o Nokia desliza, desliza e se espatifa no chão, em mil pedaços. Não, não, não...não sobrou nada, não foi possível recuperar a agenda eletrônica, e nunca liguei para a guria, que deve ter ficado esperando o imbecil ligar, e depois deve ter pensado. “Ah, só mais um carinha com papo besta”. E nunca mais encontrei a guria. E deste então qualquer número telefônico vai para a agenda de papel.

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