sábado, 1 de junho de 2013

"Tattoo"

Carrego comigo sete tatuagens, e tomando coragem e juntando grana pra fazer mais umas duas. O desejo de marcar o corpo era antigo, mas o perigo de não conseguir emprego e ser estigmatizado foram impedindo. Além do que, desde criança eu escutava os meus pais falando que tatuagem era coisa de marginal. A coragem veio numa noite fria de inverno em 2000, junto com uma amiga, que meses depois viraria namorada. Estávamos na casa de uma amiga em comum, tomando um vinho, quando uma das gurias disse: “Vamos fazer uma tatuagem?”. E não foi coisa de bêbados, não. Foi bem pensado. Era sábado, dez da noite. Onde encontrar um tatuador àquela hora? Fomos procurar no guia telefônico, aqueles grossos, amarelos, hoje uma coisa anacrônica. Encontramos e ligamos prum tal de Elias Tattoo. Ele nos atenderia dentro de uma danceteria lá perto da 24 de Outubro. Nos tocamos prá lá. Minha ex-namorada fez uma tribal no cóccix, e eu homenageei a banda que me iniciou no rock’n’roll, os Rolling Stones, com a língua desenhada no ombro direito. Engraçada foi a reação de minha mãe, dona Flora. Claro que não contei para ela que agora era um “marginal”, “ex-presidiário”. Ela estava em minha casa, e saio do banheiro sem camisa e sento no sofá, quando noto o olhar dela para mim. “Mãe, o que foi?”. “Filho, o que é isto no teu ombro?”, pergunta ela, apontando pra língua dos Stones. “Ah, é a tatuagem dos Stones”. “Estô o quê?”, continua ela, passando a língua no dedo indicador, e deslizando ele na tatuagem. “Filho, isto sai, né?”, diz, esfregando com força minha pele, começando a se desesperar. “Não, mãe, não sairá nunca mais”, aviso. Ela leva a mão direita à testa, e exclama: “Meu filho, não acredito, que vergonha, que vergonha. Tu, um jornalista...o que as pessoas vão pensar? Tu parece um presidiário”, afirma. “Mas a tua namorada não fez isto, né?”. Quando digo que a minha namorada também tatuou-se, ela decreta: “Ah, meu Deus do Céu, a guria vai parecer uma prostituta”, conclui.

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