quarta-feira, 5 de junho de 2013

“Estereótipo”

Uma coisa que detesto é a estereotipagem. Outro dia conversando com uma amiga, ela soltou que os “homens não conseguem fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo”. “Ora, eu consigo”, rebati. “Não, não, impossível”, teimou ela. Insisti que sim. Consigo escrever, ouvir música, ver TV, cozinhar, e por aí vai, simultaneamente. “Então tu é o único”, atesta ela. “Não, conheço muitas pessoas, tanto homens quanto mulheres, que fazem isso. “Mas o meu namorado não consegue”, constata ela. “Bem, cada caso é um caso, é uma característica de cada pessoa”, finalizo, mas ela continua achando que sou um caso a ser estudado pela ciência. E aí me vem a lembrança da vez que morava em São Paulo e saí algumas vezes com uma japonesinha que conheci no Masp. Íamos ao cinema, à livrarias, uma vez fomos a um show do Viper. Até que ela conseguiu estragar tudo numa tarde de domingo enquanto caminhávamos pela Paulista. “Francisco, tu é diferente”. “Mas por quê, tenho dois olhos, um nariz, duas orelhas”, brinco. “Não, não, tu é diferente do teu povo”. “Como assim, meu povo?”, me espanto. “Que povo, que povo?”. “Ah, Francisco, tu é um rapaz negro que gosta de ler, ir ao cinema, de trabalhar...”. Como assim, rapaz negro? Meu deus do céu, o “povo negro” para aquela guria era visto como preguiçoso, inculto. Parei ali na imensa avenida, olhei pra ela, e disse: “Olha, foi bom te conhecer, mas depois dessa, fui. Tu precisa aprender muito ainda”, e me mandei de volta pra república onde morava.

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