domingo, 16 de junho de 2013

“Portão 8”

Já trabalhava no Correio do Povo há uns dois anos, e naquele domingo fui escalado pelo Hiltor pra cobrir o jogo do Inter com a Portuguesa no Beira-Rio pelo Brasileirão de 1995. Os vermelhinhos viviam uma crise danada naquele ano, haviam perdido o Gauchão pro Banguzinho do Grêmio, e os protestos no Portão 8 eram frequentes. E o que acontece? O Inter é derrotado por 1 a 0, e a turba se posiciona na entrada do vestiário, para onde me encaminho junto do Hiltor e o Ricardo Giusti. Fazemos anotações, o Giusti fotografa, e estamos esperando o carro do jornal nos pegar, quando escuto uma voz: “Hei, conheço aquele cara, aquele repórter é gremista”. Olho e vejo o segurança de um mini-mercado que ficava na João Alfredo, onde eu morava. O gordinho vestia uma camisa do Inter puída, da Olympikus, e estava acompanhado de uns 30 colorados, e eles começam a vir na nossa direção. “Secador, tu vai apanhar”, diz ele, e os outros berram hinos. A gente se olha, e nisto chega o carro do jornal. Nem conseguimos entrar e somos cercados. O Hiltor diz pra eles. “Aqui não tem colorado ou gremista, estamos trabalhando”. “Ele é gremista que eu sei”, berra o gordinho, cara de Tim Maia. “Véio, estou trabalhando”, digo, querendo parecer corajoso, mas quase me cagando nas calças. A turba só pára quando aparecem uns brigadianos a cavalo, ameaçando-os com cassetetes. Entramos no carro, e nos mandamos. No dia seguinte, encontro o gordinho no mercadinho. “Porra, véio, tu não sabe separar as coisas? E tem mais, nunca eu brinquei ou falei contigo de futebol”, digo. “Eu não gosto de gremistas. Não tô nem aí pro que tu acha”, responde ele. Bem, vi que dali não poderia sair conversa inteligente, mandei ele se foder, e fui embora.

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