domingo, 30 de junho de 2013

“Ervilhas”

Entre os alimentos que não suporto, a ervilha, o coco e a goiaba estão no topo dos desprezados. Pois sexta-feira, mais de 11 da noite, eu, o Ilgo Wink e o Leandro Behs saimos da redação do Correio do Povo depois de fechar a edição de domingo e nos dirigimos para a Cidade Baixa. O objetivo é jantar no Cotiporã, muitos anos antes da reforma que o deixou chique. Nós gostávamos do chinelão, que parecia uma garagem mal-ajambrada, pois ali era feito um Xis fenomenal. Hoje ele não existe mais. Sentamos, pedimos uma cerveja para abrir os trabalhos, e cada um faz seu pedido. Peço meu Xis frango, e saliento: “Por favor, sem ervilhas, no lugar coloquem mais milho”. Sou daqueles que abro uma lata de milho e como de colher. Mas não me ofereçam nada com aquelas coisinhas verdes. Pois dez minutos depois chegam nossos pedidos. Meto o garfo e a faca e saltam dezenas de ervilhas no prato. Pô...chamo o garçom e faço a reclamação. Ele pega o prato e leva de volta, retornando em dois minutos. O mesmo pão, o mesmo prato. O cozinheiro apenas raspou algumas ervilhas, deixando um caldo esverdeado na comida. Volto a reclamar. “Ah, meu amigo, assim não, né...ainda tá cheio de ervilha”. O garçom pega o prato e some de novo. Enquanto isso o Ilgo e o Leandro se esbaldam com a comida deles, e dando risada de minha desventura. Passam-se mais 15 minutos, os guris já acabaram de comer, estão na terceira cerveja, e eis que surge o garçom com meu Xis. Minha boca saliva. Agora vai, penso. Mas antes dou uma última checada, levantando o pão com o garfo, e o que vejo? Ervilhas gordas, verdes, brilhantes no meio do frango. Explodo. “Só pode ser brincadeira, né, meu amigo. Olha isso aqui...”, digo, mostrando o pequeno Hulk. “Ah, Chico, deixa pra lá, come assim mesmo”, diz o Ilgo. “Não, eu não gosto de ervilha, eu pedi sem ervilha...”, protesto. Lá vai mais uma vez o garçom pra cozinha. Quase uma da manhã e finalmente o Xis sem ervilha, quentinho, na minha frente. O Ilgo olha pro garçom, e pergunta: “Meu amigo, vocês cuspiram no Xis dele, né?”. O garçom dá um sorriso maligno, e dispara: “Sim, com certeza”. Mas a fome é tanta, mordo o primeiro pedaço, engulo, e encerro o assunto: “O que os olhos não enxergam, o coração não sente”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário