domingo, 16 de junho de 2013

“Infiltrado”

Em 1992, o Inter faria um jogo extra com o Caxias no Beira-Rio por uma vaga na final do Gauchão contra o Grêmio. A diretoria colorada decidiu que não cobraria ingressos. Eu e o Jeff decidimos ir ao estádio secar os vermelhinhos, sabendo dos riscos que correríamos. Já ao pegar o ônibus linha Futebol no Mercado Público, vimos a enrascada. Os vândalos arrebentaram uns dois veículos, antes que um terceiro fosse poupado para levá-los ao estádio. Fomos carregados pela turba, que cantava hinos de extermínio aos gremistas. “Os dois aí não vão cantar?”, pergunta um carinha com os braços do tamanho do Schwarzenegger. O Jeff começa a socar a parede do ônibus, e berrar colorado, colorado. Eu acho um jeito de elogiar o Caíco, que surgia naquele ano como promessa vermelha. Ao descer no estádio, uma multidão avançando em direção as entradas. Lotado nas arquibancadas superiores, só restaram lugares nas inferiores. Entramos, apavorados. Afinal, estavámos indo pro matadouro. A partida começa e logo o Inter faz um gol. Temos de comemorar. Segundos depois, um cara berra. “Olha lá, aquele cara é gremista, eu conheço ele”. O torcedor infiltrado e identificado é puxado pro meio da turba, e começa a ser surrado, sendo salvo pela brigada militar. Olhando pro lado, vejo que uns carinhas ficam se olhando. Intervalo. Chego no ouvido dele e digo: “Jeff, já identificaram um gremista. Daqui a pouco alguém conhece a gente, e já viu, né”. Ele me olha, concorda. E diz: “Vamos nessa”. Quando nos viramos pra sair, um grupo nos cerca. “Os carinhas vão aonde?”. “Pro bar”. Certamente eles notaram nossas caras de “porra, o que estamos fazendo aqui”. Mas deixam a gente passar. A gente sai caminhando bem devagar, entra no túnel, e acelera o passo. Só paramos quando atravessamos a rua e chegamos na parada de ônibus. Onde estão umas 10 pessoas. Todo mundo se encara, e um tem a coragem de dizer: “Aposto que todos aqui são gremistas, né”. Outro começa a rir nervoso, e todo mundo concorda. A gente só relaxa quando passa um ônibus, a gente entra nele e se manda pra bem longe do Beira-Rio.

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