Guaibadas é uma homenagem a Porto Alegre e o rio/lago que o circunda, cidade em que se passa a maioria das histórias que vou contar aqui. Histórias que aconteceram comigo, com amigos e amigas, com conhecidos e desconhecidos. Alguns causos são hilários, outros apenas divertidos, muitos são tristes, outros não tem nada de especial, mas mesmo assim devem ganhar a luz do dia. Enfim, um olhar sobre o porto-alegrense e suas loucuras.
quarta-feira, 15 de maio de 2013
“Gente ruim”
Encontro na rua a mãe de uma ex-namorada. E ela está furiosa, reclamando do modo como é tratada pelos motoristas de ônibus. “Todos grosseiros, a gente, que é velhinha, sobe no ônibus e eles nem esperam a gente se acomodar e arrancam. Toda a semana levo um tombo”, lembra. “Sabe o que é isso, Chico? As pessoas estão sem amor, estão desalmadas”, continua ela. “Mas eu sou feliz, pois tenho amor e sempre penso no próximo. Tenho pena das pessoas que não tem isso, são umas pobres coitadas, principalmente as que não tem religião”, dispara ela. “Ainda bem que nós temos religião, né, meu filho. Eu queria tanto que a minha filha tivesse religião, seria uma pessoa melhor, pois quem não tem não é bom!”, analisa. Olho bem pra ela, e pergunto: “Eu sou bom, dona Rosa?”. “Mas claro, tu é umas pessoa muito boa”, conclui ela. Aí eu revelo: “Mas dona Rosa, eu não tenho religião!”. A dona Rosa fica estática, e não tem como voltar atrás em sua definição em quem é bom ou mau. Então simplesmente me dá um tapinha no ombro e vai embora, desapontada. Ela repetiu o mesmo gesto feito pela avó de uma amiga há muitos anos atrás, quando fui visitá-la, ela que perdera o marido. A velhinha me serve um café e vamos batendo papo, até que chega o papo religião e ela me questiona. “Meu filho, nunca te vi na igreja. Por quê?”, diz ela, agradecendo por ir visitá-la em momento tão difícil. “Tu é um guri tão bondoso”, conclui. E então eu estrago o mundo dela. “Eu não posso ir à igreja”, digo. “Mas qual o motivo, Francisquinho?”. “É que sou ateu”, respondo. E a afirmação sai como um raio direto na cabeça da dona Lurdes. Ela não pode aceitar. E daquele momento em diante eu deixo de ser o guri bondoso. E passo a ser o filho de Satã. “Eu não acredito, tu é uma pessoa do mal, tu anda com o demônio”, diz ela, fazendo o sinal da cruz. Ué, há um segundo eu era bondoso. E de repente, só por discordar da opinião dela, sou uma pessoa má? Bem, nunca mais fui bem aceito na casa da dona Lurdes. E o mundo não mudou muito não, né. Basta contrariar um religioso, que eles enfurecem. Ainda bem que a fogueira não é mais usada para punir os hereges.
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