sábado, 18 de maio de 2013

“Prestígio”

Odeio coco. Com toda a convicção do mundo. Eu tinha uns 10 anos e gamei numa colega de colégio, a Flávia Carvalho. Mas quem acompanha minhas histórias, sabe que o mudismo imperava na minha vida infantil e adolescente quando o assunto era garotas. Mais ou menos como o Raj, do Big Bang Theory. A mãe, então, ganha um bombom prestígio de meu pai. Ela não come na hora, deixa em cima da mesinha da tevê para comer no final de semana vendo algum filme ou novela. Passam um, dois, três dias, e o prestígio ali. E eu querendo trocar uma, duas, três palavras com a Flávia. Como poderia me aproximar dela? Ora, levando um presente. E pego o doce. No recreio, chego na menina, e digo: “Tó, pra ti”. “Izidro, obrigada”, agradece ela, devorando o presente em seguida. O papo? Não teve, pois voltei pro meu silêncio natural. E que teria consequências nefastas quando chegasse o final de semana. Estou ao lado de meus pais, vendo Os Trapalhões. Recém havíamos acabado de jantar. E a mãe diz: “Agora vou comer meu doce”. Tenho um calafrio. “Cadê meu doce? Querido, tu pegou ele?”, pergunta a mãe pro pai. “Não”, responde o seu Chicão. A dona Flora me olha. Me fuzila. “Cadê meu chocolate?”. “Eu comi”, minto. “Francisco de Assis, tu não gosta de coco, tu não come coco nem sob tortura”, me desmascara. “Não, eu comi”, insisto. “Não me mente”, ameaça a dona Flora. Acabo confessando o roubo e a entrega pra paixão colegial. “Tu pega meu chocolate e leva pruma guria no colégio. Nem pensou na tua mãe?”. Ah, a chantagem emocional, antes da surra de chinelo que levei (imagina hoje uma mãe dar umas chineladas nos filhos?). Não bastassem as chineladas, o que mais doeu foi o corte da minha mesada, que era semanal, durante dois meses, e que facilitava a compra de revistinhas em quadrinhos e minhas bolachas recheadas São Luiz Extra. Quem acabou namorando a Flávia foi meu amigo Orlando.

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