quarta-feira, 22 de maio de 2013

"Os quadros"

Namorada nova, apaixonadíssimo, e cego, só vejo as coisas boas da guria. Corpo violão, longos cabelos loiros, olhos azuis, peitão. Nem me dou conta que nós dois tínhamos muito pouco em comum. E comecei a ver as coisas com mais clareza quando a Bia veio à minha casa pela primeira vez. A guria faz a tradicional visita pelo apartamento, e para em frente a um quadro do Iron Maiden. “Irãn Maidên, o que eles tocam?”, pergunta ela. “Airon Mãeden”, corrijo. “É uma banda de heavy metal”. “Ah, aquelas músicas de louco”, conclui a Bia, seguindo em diante. À sua frente um quadro com a capa do The Dark Side of the Moon. “Chico, tu é gay?”. “Ah, como assim, Bia, tu fumou?”, me espanto. “É que esse quadro tá com o arco-íris dos gays”, analisa. “Bia, esta é a capa do The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd”, explico. “Viu, pink, rosa, é coisa de bicha”, continua a guria. “Bia, tu não conhece o Pink Floyd?”, meu espanto vai crescendo. “Além do mais, como posso ser viado se te como, e muito bem, aliás?!”. Ela dá de ombros e falo da banda. Não, ela nunca ouviu falar. Pergunto do The Wall. Nada sabe aquela loirinha. Pego os discos e mostro para ela. “Tá vendo, este aqui é o The Dark, lançado em 1973, com o prisma e não arco-íris”, ensino. “Este aqui com os tijolos é o The Wall, de 1979”. Ponho para rodar a faixa Another Brick in the Wall, afinal esta todo mundo já ouviu alguma vez na vida, pois tocou e ainda toca demais nas rádios. “Ah, isto eu já ouvi”, reconhece. O “isto” dela me dá arrepios. “Mas não me diz nada”, conclui a Bia. Ali notei que nossa relação não tinha futuro. Não teve mesmo. (www.guaibadas.blogspot.com)

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