domingo, 19 de maio de 2013

"O culpado"

Este negócio de alguém perguntar como está um parente, uma namorada, sei lá, às vezes incomoda, mas as pessoas só estão querendo ser atenciosas. E por isso acabei me dando mal nesta semana. Encontrei uma amiga querida e conversa vem, conversa vai, para encerrar o assunto, solto: “Meu doce, tua mãe tá bem? Manda um beijão pra ela”. No segundo seguinte, minha amiga devolve: “A mãe morreu no final do ano passado”, e desaba no choro. Não sei o que fazer, começo a soltar desculpas, que não aplacam a dor da lembrança dela. E o que recordo? Um tempo atrás encontro um colega de faculdade que há muito não via. E o carinha: “E ai, como tá teu pai, o velho Chicão?”. “O pai está morto”. “Mas como, quando foi isso?”, espanta-se meu ex-colega. “Há 20 anos”, e começo a chorar de sacanagem, de mentirinha. “Me desculpe, me desculpe”, implora o coleguinha. “Por que, foi tu que matou ele para vir se desculpar?”, continuo fingindo. Sei, a brincadeira foi longe demais, mas não resisti. Quando o carinha estava quase se enforcando de culpa, paro com a atuação, e começo a rir. Aí o meu colega ri também, um pouco de nervoso, um pouco por lembrar que sempre fui muito sacana. “Seu viado, não mudou nada, né, e eu caí direitinho. Mas putz, 20 anos, como foi?”, continua ele. Conto a história, claro, sinto falta de meu velho, de ouvir a voz dele, que infelizmente já esqueci, mas são duas décadas. Aconteceu...

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