terça-feira, 7 de maio de 2013

O cachorrinho

Lendo meu livro no ônibus, quando noto uma movimentação ao meu lado. Várias crianças e adolescentes e alguns adultos em volta de alguém. O que será? E dê-lhe elogios, tipo coisa mais linda, que beleza, fofura...então de repente o burburinho se desfaz, revelando uma loiraça deslumbrante com um cachorrinho no colo. Claro, estavam elogiando o dog. Eu penso em latir para a guria, tal sua beleza, que abre um sorrisão de dentes brancos e perfeitos, falando pra mim: “Tu viu, que coisa, né, meu cachorrinho chama mais atenção do que eu”, lamentando-se. “Gente mais insensível e cega”, brinco. Os olhos dela brilham, ela fica me encarando, ainda sorrindo, e penso em dar aquela cantada ridícula (o cachorrinho tem telefone?), mas desisto ao lembrar de uma namorada que tive anos atrás. A guria andava deprimida devido a um acidente, e dei um cachorrinho de presente para ela. Erro fatal. Minha namorada começou a tratar o bichinho como uma criança mesmo. Roupas, sapatinhos, cama, mamadeira. Ih, nem vou discutir, viram?, pois sei que muita gente faz isso. Só que ela passou dos limites quando quis que o dog dividisse a cama com a gente numa fria noite de inverno. Dei um basta naquilo. Meses depois o romance findou. E o que acontece? Um sábado chuvoso estou em casa, ouvindo música e lendo um livro quando o telefone toca. Pela bina, vejo que é minha ex. “Oi guria, o que foi?”, pergunto. “Chico, a comida do Pipoca está acabando. Tu vai mandar ou depositar o dinheiro da comida dele?”, pergunta ela. “Como assim, que grana?”, me assusto. “O dinheiro pra comida do Pipoca”, responde a guria. “Mas por que eu deveria dar dinheiro?”. “Ora, ele precisa comer”. “Mas ele é o teu cachorro, não meu”, tento trazer a luz pra ela. “Tu que me deu ele, a gente namorava”. “Sim, a gente namorava, namoraaaava”. “ME DÁ O DINHEIRO”, berra ela, perdendo a compostura, e me fazendo lembrar porque terminei com ela. “ME DÁ O DINHEIRO”, repete. Não querendo discutir, digo que na segunda-feira deposito o dinheiro na conta dela. E o faço. Vinte dias depois, ela volta a me ligar pedindo mais dinheiro. “Guria, tu acha que tenho de pagar pensão pro Pipoca? Não, né? Acabou, agora tu te vira”, determino. Pô, pensão pra cachorro? Dois anos depois, ela me manda um email. Casou, teve um filho e por causa do bebê, deu o Pipoca pra outra pessoa.

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