sábado, 25 de maio de 2013

“Nem pensar”

O Rudi era um amigo meu, também negão, que estava completamente entusiasmado com seu casamento com a colega de faculdade de direito, uma alemoa lá de Feliz. O amor entre os dois havia sido quase instantâneo no primeiro dia de aula na Unisinos. Mas a timidez imperou, outros rolos aconteceram e os dois nunca se declararam. O namoro só iria rolar anos após a formatura. O Rudi passou uma temporada no exterior, sem contato com a guria. Na época, nada de internet, então a comunicação era feita por cartas, e os dois trocaram uma, duas, até perderem o contato. Quando ele voltou para Porto Alegre, os amigos e colegas fizeram um jantar de comemoração e o Rudi reencontrou a ex-colega. Combinaram de sair, e o namoro teve início. Um ano depois, casaram. Muito, muito amor, que acabou de forma brusca. Quase estúpida. Um dia estavam deitados na cama, ele pegou-a pelos cabelos, a encarou bem nos olhos. “Querida, vamos fazer um filhinho, uma filhinha, uma neguinha linda, de grandes olhos verdes? Imagina só, o arraso que seria”, projetou. A guria foi cruel, muito cruel, como narrava o Januário de Oliveira na Band. “Tu quer ser pai?”. “Sim”. “Então arranja outra mulher, pois eu de forma alguma serei mãe, muito menos de um filho teu”. Doeu muito pro Rudi. Ele ainda resistiu um ano, mas depois pegou suas coisas e saiu de casa. E do estado.

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