sábado, 11 de maio de 2013

“Velha guarda”

O Paulo Moura era um dos jornalistas esportivos da velha guarda, daqueles que não revelavam seu time de coração nem sob a mais intensa tortura. O problema em seu segredo é que ele, com o tempo, começou a deixar pistas, mesmo não querendo. O Mourinha chegava na redação do CP lá pelas seis da tarde, sentava em seu lugar, lá no fundão, e depois de separar o que entraria na edição do dia seguinte, começava a reclamar do Grêmio. Aí eu, o Ilgo e o Possas começávamos a provocar. Nós falávamos do Inter do passado e do presente. E o Mourinha nem se coçava, passando a falar sobre o Guga, o Sampras. Então elogiávamos o Grêmio e ele mordia a isca. Lembrava que o Grêmio bom era o dos anos 1950/60, e sabia a escalação completa dos times de todas as temporadas daquelas décadas. Mas não se dobrava. Eu e o Ilgo tivemos a oportunidade de descobrir o segredo numa festa de Natal da redação do Correio do Povo lá no restaurante Piacevolle, no Rua da Praia Shopping. O Mourinha está num canto, tomando um uisquinho, e então chamamos a esposa dele, dona Silvia. “Dona Silvia, vem cá, uma perguntinha rápida”, pedimos. “Claro, meninos”, responde ela, simpaticamente. “Afinal, qual o time do Mourinha?”, perguntamos. “Mas que pergunta boba, claro que ele é gremista”, diz ela, inocentemente. No mesmo instante, o Moura sacou a nossa sacanagem, cuspiu o uísque e deu um pulo lá do canto dele, puxando a dona Silvia. “Mulher, tu tá louca?”. “Paulo, o que eu fiz?”, espanta-se ela. Eu e o Ilgo saímos de fininho, o Moura vem atrás da gente, reclamando, mas prometemos guardar segredo, como se ninguém soubesse.

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